sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Dmitri Seniavin e a esquadra Russa doTejo. Parte 3


«Dmitri Seniavin responde imediatamente, começando por sublinhar que ele compreende muito bem o seu dever, que consiste em cumprir à risca as ordens de Napoleão, mas arranja nova argumentação para evitar isso. Desta vez, o almirante russo alega que, caso ele desembarcasse na margem esquerda do Tejo, teria de combater não só contra os ingleses, mas também contra os insurrectos portugueses, coisa de que não tinha sido incumbido. Além disso, considerava que era mais útil para os monarcas francês e russo não atacar a esquadra inglesa, mas continuar no mesmo lugar. Junot ficava cada vez mais furioso e, a 26 de Julho, foi visitar Seniavin ao navio “Tverdii” (“Firme”) para tentar uma vez mais convencê-lo, mas em vão. Dois dias depois, escreve uma nova carta: “Senhor almirante, visto que a situação em que encontro se torna dia a dia cada vez mais complicada, considero ser meu dever e uma questão de minha honra conhecer positivamente as vossas intenções e saber se posso esperar receber de Vossa Excelência alguma ajuda. Este é o meu dever, visto que o Imperador, o meu Senhor, considera que significativa esquadra que o Imperador russo colocou à sua disposição deve, obrigatoriamente, em circunstâncias tão críticas, ajudar com todos os meios o seu exército terrestre, tal como o exèrcito terrestre deve ajudar a esquadra”. Na mesma missiva, Junot passa para o campo das ameaças: “É necessário que o meu Senhor e o vosso saibam que a esquadra russa não desejou prestar-me a mínima ajuda. É preciso que os militares, que irão analisar a minha situação, saibam que eu não estive apenas cercado por todos os lados de inimigos, mas que a esquadra aliada da França, que se encontra em guerra contra Inglaterra, se declarou neutra no momento mais decisivo perante a esquadra inimiga e no momento do desembarque substancial de tropas inglesas, e que o seu comportamento foi para mim mais prejudicial do que se ela estivesse contra mim”. A ira do general Junot é tão grande que começa a referir-se a Seniavin, na mesma carta, na terceira pessoa: “Se o senhor almirante Seniavin se encontra realmente em estado de guerra com os ingleses, como pode ele pensar um só momento que a sua armada não cairá nas mãos deles caso tomem Lisboa? Se o senhor almirante Seniavin tem algum acordo com o almirante inglês, se ele recebeu de alguma forte garantias para a sua armada, será que a honra lhe permitirá abandonar o aliado sem aviso?”. O almirante russo respondeu à missiva no mesmo dia, reafirmando a sua obediência a Napoleão e negando qualquer acordo com os ingleses. Porém, continua a considerar que é inútil fazer desembarcar os seus homens não só porque são menos de mil, mas também porque os russos não compreendem português!"

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