domingo, 5 de outubro de 2008

O arsenal do Exército . Parte 4 . Sérgio Veludo Coelho.

Continuação.
«O fabrico e prova dos canos, de ferro, na Fundição de Baixo e em Stª Clara, era levado a cabo pelos espingardeiros, designados de lima, forja e malho e sobre o seu trabalho pendia a responsabilidade de produzirem canos de qualidade para as armas de fogo, tendo em conta que cada cano teria que ser testado de forma a avaliar a sua resistência ao uso prolongado a às duras condições de combate. Aos espingardeiros era também atribuída a responsabilidade de testar canos importados do estrangeiros, ou mesmo as armas completas, com o objectivo de comprovar a fiabilidade dos materiais e a qualidade de construção do armamento. Os canos provados eram obrigatoriamente puncionados com a marca do Arsenal para comprovar que estavam aptos a ser montados nas coronhas e aplicadas as guarnições e fecharias. As armas ficavam completas com a aplicação das bandoleiras de couro e a atribuição das respectivas baionetas e bainhas. As coronhas das armas, tanto espingardas, carabinas e pistolas eram feitas pelos coronheiros, que tal como os espingardeiros eram ofícios que também se encontravam representados nas próprias unidades militares que contavam com este tipo de artífices para a manutenção regimental do armamento. Apesar do extenso número de mestres espingardeiros no Arsenal Real do Exército, alguma documentação do Arquivo Histórico Militar demonstra que as dependências do Arsenal responsáveis pelo armamento ligeiro não possuiriam capacidade para fabricar e prover a totalidade dos efectivos das tropas de 1ª linha, as milícias e as ordenanças. Tal pode ser demonstrado pela análise de um contrato de aquisição de armas a um fabricante alemão da zona da Turíngia transcrito num documento, de 11 de Setembro de 1802, e relativo à aquisição de 30000 espingardas ao fabricante Heinrich Anschutz Companie, de Suhl, no Henneberg, naquilo que viria a ser um longo processo com vários intervenientes, entre os quais o legado português em Berlim, Silvestre Pinheiro Ferreira, que actuava sob as ordens de António Araújo de Azevedo, Conde da Barca e Ministro do Princípe Regente D. João. Uma comissão ao serviço do Príncipe Regente, entregue ao já referido negociante de armas Heinrich Anschutz ficaria autorizada para a aquisição de espingardas para uso Exército Português, ao preço de 6 Risedaller e 20 Groschen cada uma. As espingardas seriam de calibre e proporções semelhantes aos modelos ingleses, à excepção das baionetas que conservando o peso da congénere britânica, seriam mais longas algumas polegadas (não especificadas no texto). Cada espingarda seria acompanhada por um sacatrapos e cada centena de espingardas traria um molde para fundir 12 balas em simultâneo. »
Continua.

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