CORPO DE GUIAS
Esta é uma unidade especial, cujo levantamento foi ordenado por Wellington em 1809, teve por base uma unidade portuguesa denominada "Guias do Exército" mencionados em 1806 e novamente em 1809 nos regulamentos.1
O Corpo de Guias do Exército teve por origem uma rede eficaz de informações montada por D. Miguel Pereira Forjaz, que era coordenada pelo Director da Posta Militar, Joaquim José de Oliveira. Esta rede, operava na Galiza, sob a coordenação do Tenente-coronel Manuel de Madureira Lobo, e Castela a Velha e Leão sob a coordenação de António de Gouveia Proença. Outros agentes actuavam na Andaluzia, Estremadura, Astúrias e mesmo em Portugal. Entre os homens que se destacaram nesta rede de informações, contam-se nomes como Filipe Bettencourt e Carlos Frederico Lecor.
Foram criados em 26 de Setembro de 1808, para actuarem inicialmente como ordenanças, sendo compostos por 1 Sargento, 1 Cabo e 18 soldados.
Consciente da importância desta unidade de espionagem e inteligência e da rede montada, Wellington solicitou e conseguiu obter que o Corpo passasse ao seu comando directo sendo então levantado o Corpo de Guias ( Corps of Guides) a 2 de Junho de 1809.Inicialmente fazia parte do Exército Português integrado no Estado-Maior , até ser incorporado no Exército no Quartel General do Exército Anglo-Portugues. Não se trata de uma unidade especial britânica ou portuguesa, mas sim um departamento do Quartel-General Anglo-português, mais concretamente no corpo de oficiais empregados no serviço estado-maior do comandante
Conforme se constata pelo Despacho de Wellington de 1 de Julho de 1809.
” Lieut. General the Hon. Sir A. Wellesley, K.B., to the Military Secretary of the Commander in Chief. , ' Castello Branco, 1st July, 1809 , ' SIR,
(...)
9. The order of the 7th May, attaching Mr. Cussan and Mr. Andrade2 to the office of the Quarter Master General, was issued with a view to the formation of the corps of guides, respecting which the order was finally issued on the 23rd May, 1809. ' This corps is essentially necessary in all operations in Portugal. It is most difficult to obtain any information respecting roads, or any of the local circumstances which must be considered in the decisions to be formed respecting the march of troops; and this difficulty obliged me last year, and all those who have since conducted operations in this country, to form a corps of this description. ' The object is not only to have a corps whose particular duty it will be to make inquiries, and have a knowledge of roads, but to have a class of persons in the army who shall march with the heads of columns, and interpret between the officers commanding them, and the people of the country guiding them, or others from whom they may wish to make inquiries”.3
Esta unidade acabaria por incluir militares e civis de várias nacionalidades. Os portugueses escolhidos para integrar a unidade eram em geral homens de grande cultura, letrados, conhecedores de cartografia e línguas, e que conheciam os territórios por onde o exército operava. Na sua maioria, haviam integrado o Batalhão Académico.
Esta unidade incluía cavaleiros ligeiros para reconhecimento do terreno, recolha de informações junto das populações locais. Os Guias tinham por finalidade, fazer guardas avançadas, escoltas, bater e reconhecer terreno, servir de estafetas levando e trazendo mensagens trocadas entre Comandantes, entrega de mensagens classificadas, encaminhamento táctico das unidades, etc..
Durante a campanha o Corpo de Guias foi encarregue da cifra, tendo por objectivo decifrar os códigos do exército Francês, usados nos despachos e comunicações que eram capturados. Esta Unidade militar supervisionava os correios militares, decifrando as mensagens interceptadas ao inimigo, bem como a informação, colhida pelos semáforos4. Tais mensagens eram analisadas com a ajuda da Cryptographia, de D.A, Conradus. A partir de Dezembro de 1811, começam a ser capturadas mensagens com um novo código, -“La Grand Chiffre” o qual também seria decifrado permitindo enorme vantagem estratégica a Wellington , e que lhe traria retumbantes vitórias.
Como podemos ver, era uma unidade mista de operações especiais e serviços secretos.
Esta unidade foi comandada entre 1808 e 1814 pelo Major e mais tarde Tenente-coronel George Scovell, secundado pelo departamento do QMG de Wellington, o qual foi posto sob o comando de um oficial britânico do Quartel-Mestre-General (QMG). Foi transformado no departamento de inteligência do exército Luso-Britânico, ficando finalmente sob a alçada do QMG Britânico.
Entre 25 de Abril e 3 de Junho de 1809, foram nomeados 15 oficiais (12 portugueses e 3 britânicos). Em 1813, foram nomeados mais oficiais, corpo que tinha nessa altura 12 oficiais e 193 homens.
Entre 1808 a 1810, era um corpo essencialmente Português, oriundo da organização portuguesa, sendo os seus oficiais oriundos na sua generalidade da Universidade de Coimbra, como se referiu. Este corpo recrutou muitos desertores e Espanhóis a fim de reunir a maior informação possível para o exército Luso-Britânico.
Em 1813, encontramos um despacho de Wellington a Lord Bathurst, no qual descreve a composição e funções de actuação deste Corpo:
“24 February 1813
… At the time I took command of the Army in April 1809, I formed a Corps of Horsemen then denominated the Corps of Guides, which was placed under the command of an officer of the Quarter Master General’s Department. It consists generally of foreign deserters from the enemy’s army and is officiered by Portuguese, generally students of the University of Coimbra. The object in the formation of this corps, and its duties at first were to make enquiries about & to reconnoitre the roads, and to provide interpretations between the common village guides of the country and the leaders of the colums of troops on their march; and to circulate orders and other communications between the different divisions of the army and headquartres.
In proportion, as the numbers of the army have been increased and their operations extended… this corps has been increased and in the last campaign all communications between the army and the frontier of Portugal, all those with Madrid, & General Hill’s Corps as well while on the Tagus, as while in Estramadura were carried only by the Corps of Guides placed in stages on the road.
The nature of the disorders commited by our soldiers… expedient in using the Corps of Guides in aid of Police under the Provost on the Roads on which they should be placed for communications in the next campaign, and… I directed a further increase of the Corps…even though the Staff Corps of Cavalry should be formed in this Army…”5
Esta unidade desaparece no fim das Guerras Napoleónicas, que na Organização Militar portuguesa, quer na Inglesa, o que demonstra claramente o que se disse como unidade típica do exército Anglo-português, o que se verifica pela simples troca de correspondência entre Wellington e Beresford sobre as promoções dos oficiais deste corpo.
To Marshal Sir W. C. Beresford, K£.
'My Dear Beresford, 'Pedrogào, 4th August, 18U.
'I have received your letter of the 31st July. It is quite impossible to allow General Hervey to go to England at present.
'The officers of the corps of guides must of course not be promoted over the heads of the seniors. I only wish that when their seniors shall be made Lieutenants, they may be made Lieutenants aggregados.
'Believe me, &c. 'Marshal 'wellington.
Sir W. C. Beresfwd, K.B: 6
Composição do Corpo de Guias 7
G.O. Oporto, 23d May, 1809.
1. The Quarter Master General will forthwith furnish a corps of mounted guides, to be under the immediate superintendence of an Officer of the Quarter Master General's department. This corps will receive the pay and allowances of cavalry; and the Officers, non-commissioned officers and privates, will be mounted on horses or mules found by the public. The corps to be composed as follows:—
4 Officers receiving the pay and allowances of Lieutenants.
4 “ “ “ Cornets.
6 Serjeants.
6 Corporals.
2 Farriers.
20 Privates.
G. O. Alemquer, 17th Nov. 1810.
1. The Commander of the Forces directs that the Corps of Guides shall be augmented, and the establishment of mounted men to be in future:—
6 Lieutenants. 8 Serjeants. 2 Trumpeters.
6 Cornets. 8 Corporals. 50 Privates.
and Captain Scovell, Deputy Assistant Quarter Master General, will take measures to complete them as soon as possible.
G.O. Fuente Guinaldo, 6th Sept. 1811.
3. The Commander of the Forces directs that the Corps of Guides shall be augmented, and the establishment is to consist as follows:—
6 Lieutenants. 8 Serjeants. 2 Farriers.
6 Cornets. 8 Corporals. 80 Privates,
and Major Scovell, Assistant Quarter Master General, will take measures to complete them as soon as possible.
G.O. Freneda, 11 th Dec. 1812.
3. The Corps of Guides is in future to consist of the following establishment:—
1 Captain. 1 Quarter Master Serjeant. 16 Corporals.
6 Lieutenants. 1 Serjeant Major. 6 Farriers.
6 Cornets. 16 Serjeants. 150 Privates.
4. Mr.____ , Director of Posts at head quarters,- is to be Paymaster of the Corps of Guides and Military Communications of the army.
G.O. Freneda, 21st April, 1813.
6. Lieut. Colonel Sturgeon, Assistant Quarter Master General, will take charge of the Corps of Guides, of the Post Office, and other communications of the army, vice Lieut. Colonel Scovell.
7. The Corps of Guides will in future consist of two troops, each of the following strength:—
1 Captain. 1 Trumpeter.
3 Lieutenants. 3 Farriers.
3 Cornets. 75 Privates.
1 Troop Serjeant Major. 1 Regimental Serjeant Major.
8 Serjeants. 1 Veterinary Surgeon.
8 Corporals.
NOTAS DE RODAPÉ
1 As principais eram as de regular o movimento das tropas durante a execução de uma manobra, orientando os movimentos e os alinhamentos para assegurar a sua rectidão. Nas marchas, indicavam a direcção que deveriam tomar os exércitos. Os Guias mantinham, nas colunas em marcha, as distâncias normais entre duas facções ou unidades imediatamente próximas, podendo regular o andamento ou ritmo da marcha conforme as necessidades. Nas mudanças de direcção de uma unidade ou de um exército, era ele a base do respectivo movimento. Os elementos das fileiras regulavam-se pelas suas indicações, dadas em voz de comando: Guia Direita!, Guia Esquerda!, Guia Centro!, etc. Também se encarregavam de escoltar os Quartéis-generais e de outras missões julgadas necessárias para o bom andamento do respectivo serviço.
2 Foi comandante dos Guias o Coronel Cipriano Lopes de Andrade.
3 The dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington: during his ... John Gurwood - 1835: Volume 4 - Página 455.
4 Corpo Telegráfico
5 The dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington: during his ...: Volume 10 - Página 140 . Wellington to Lord Bathurst, Freneda, 21 February 1813, WO 1/257 p 351. Mais material sobre o corpo de Guias poderá ser encontrado em Public Records Office , Londres, WO 4/171, WO 6/138, and WO 40/10. 13.
6 The dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington during… vol 3, pag 168.
7 The general orders of Field Marshal the Duke of Wellington ... in ... - Página 89
****NOTA
(texto original inserido no livroO EXÉRCITO ALIADO ANGLO-PORTUGUÊS NA GUERRA PENINSULAR (1808-1814) * João Centeno * 2011)