segunda-feira, 9 de março de 2009

Escolha do general para organizar e assumir o comando do exército português

Excerto do ofício dirigido do Rio de Janeiro a D. Domingos António de Sousa Coutinho sobre a escolha de general para organizar e assumir o comando do exército português.


Conhecendo também sua alteza real a suma necessidade que é para o reino chamar um general que possa organizar o exército de Portugal nas três essenciais armas, e que forme um corpo numeroso, escolhido e bem disciplinado, de que possa depois destacar uma grande força para a defesa da Espanha, de flui tão essencialmente depende a de Portugal, que mal conservaria a sua independência se Espanha perdesse a sua; portanto, é sua alteza real servido que v. s. a, tendo somente em vista o interesse do real serviço e do reino, e de acordo com esse ministério, escolha algum general que seja dos melhores e dos mais capazes de criar um bom exército e com boa disciplina, que mereça toda a confiança, e que com ele ajuste o que se lhe deve dar e a patente com que há-de servir a sua alteza real, sendo só para desejar que pile possa fazer em Portugal os mesmos prodígios que em 1762 operou o conde de La Lippe, e que nunca mais, apesar dos muitos e grandes esforços que sua alteza real fez para o mesmo fim, poderão tornar a conseguir-se.
Lembra Sir Arthur Wellesley haver quem apontasse o general Beresford, pois que ele poderia ajudar também o governo com luzes administrativas e de fazenda; mas nada sua alteza real quer lembrar directamente v. s. a. quanto à pessoa, porque, confiando do zelo, fidelidade e inteligência de v. s. a., quer deixar-lhe toda a Liberdade nesta difícil em preza, e faze-lo responsável do importante acerto e de que fica encarregado.
V. S. poderá segurar ao general que julgar dever escolher, que sua alteza real não só o manda recomendar aos governadores do reino, como verá da carta regia de que lho remeto copia, mas que sua alteza real ordena aos mesmos que em tudo sustentem e façam executar as suas ideias com aquela energia que pede o difícil e critico momento actual, e que o seu plano deverá estender-se a organizar uma boa e firme infantaria, uma bem adestrada cavalaria e uma artilharia de posição e a cavalo, que nada deixe a desejar, alem do corpo de milícias que possa combinar-se com as tropas de linha e segurar a defesa do reino, entrando também no sistema de chefe geral que poderá organizar-se, conservando e erigindo de novo as praças que se julgarem necessárias, estabelecendo o soldo competente, e propondo as convenientes economias, para que este exército móvel e sempre pronto a entrar em campanha seja, contudo, o menos dispendioso possível.
Realizar estas luminosas vistas e planos de sua alteza real é de suma dificuldade; mas v. s. a. fará os maiores esforços para conseguir este fim com a dexteridade e energia que merecem que sua alteza real lhe de esta demonstração de confiança em ponto tão essencial.
Deus guarde a v. s. a. Palácio do Rio de Janeiro, em 9 de Janeiro de 1809. = Conde de Linhares
.”

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