quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Estado do Regimento de Lagos em 1811.

ESTADO MAIOR
Coronel lugar vago
Tenente-Coronel João Telles de Menezes e Mello
Major John MacDonald
Major Lourenço Martins Pegado
Ajudante Tenente Pedro José Pereira
Ajudante Tenente José de Mello de Brito
Quartel-Mestre Tenente João Nepomuceno de Attaide
Secretario -
Capelão Padre José Maurício

ESTADO MENOR
CirurgiãoMor Capitão António José da Costa Lima
Ajudante de Cirurgião Tenente José Joaquim Franco
Ajudante de Cirurgião Tenente Luís José Rodrigues
Ajudante de Cirurgião Tenente José Romão Pereira Nillo
Ajudante de Cirurgião Tenente Nicolau Joaquim Aguas
Ajudante de Cirurgião -
Ajudante de Cirurgião -
Tambor-Mór -
Cabo de tambores -
Espingardeiro -
Coronheiro -

MÚSICOS
Mestre de Musica -
Segundo Mestre -
Musico -
Musico -
Musico -
Musico -
Musico -
Musico -
Bombo -
Rufo -


CAPITÃES
Capitão 1ª Companhia Dugald Campbell
Capitão 2ª Companhia -
Capitão 3ª Companhia João Rosendo Mendonça
Capitão 4ª Companhia Francisco de Paula Biker
Capitão 5ª Companhia Francisco Correia Leote
Capitão 6ª Companhia -
Capitão 7ª Companhia Dugald McGibon
Capitão 8ª Companhia Lazaro Soares de Almeida
Capitão Companhia 2ª Granadeiros António Correia Leote
Capitão Companhia 1ª Granadeiros Robert Ray


TENENTES
Tenente 1ª Companhia António Maria Pinto
Tenente 2ª Companhia Ludovico José da Rosa
Tenente 3ª Companhia Francisco Rebello de Moura
Tenente 4ª Companhia José Cândido de Mendonça
Tenente 5ª Companhia João de Almeida
Tenente 6ª Companhia José Anacleto Cabrita
Tenente 7ª Companhia Simão Manoel de Azevedo
Tenente 8ª Companhia Joaquim Manoel da Fonseca e Sousa
Tenente 1ª Granadeiros Joaquim Anastácio Lobo
Tenente 2ª Granadeiros Manoel Alexandrino Pereira

ALFERES
Alferes 1ª Granadeiro Manoel de Abreu Madeira
Alferes 2ª Granadeiro Joaquim Leonardo de Mendonça


Alferes 1ª Companhia Gaspar Villa Lobos
Joaquim Carlos Viana
Alferes 2ª Companhia Francisco Hipólito
Alferes 3ª Companhia João da Silva Fragoso
José Maria da Nobrega
Alferes 4ª Companhia José Pedro Tavares
Alferes 5ª Companhia José Roberto Botelho
Alferes 6ª Companhia Bento José Tavares
Alferes 7ª Companhia Francisco Correia da Silva
Henrique Luís da Fonseca
Alferes 8ª Companhia Theotonio Borges da Silva
António Silvestre de Sousa

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

INFAME PROCEDIMENTO DE DOM PEDRO DE ALMEIDA, MARQUEZ DE ALORNA.


TENDO VISTO SUA ALTEZA REAL... O INFAME PROCEDIMENTO DE DOM PEDRO DE ALMEIDA, MARQUEZ DE ALORNA... MANDA O PRINCIPE REGENTE NOSSO SENHOR DECLARAR O DITO PEDRO DE ALMEIDA REO DE LESA MAGESTADE DE PRIMEIRA CABECA……Tendo visto Sua Alteza Real... o infame procedimento de Dom Pedro de Almeida, Marquez de Alorna... manda o Principe Regente nosso senhor declarar o dito Pedro de Almeida réo de lesa magestade de primeira cabeça…… [Visual gráfico]. - [S.l. : s.n.], 1810 ([Lisboa] : na Impressão Regia. - 1 cartaz : p&b ; 31x22 cm. - O 3.º Marquês de Alorna, foi condenado à morte em Juízo de Inconfidência pela colaboração activa com o invasor. - Com espaço em branco para as rubricas dos cinco Governadores do Reino. - Não il.. - BN - "300 Anos do cartaz em Portugal". Lisboa, 1975, nº 13


Biblioteca Nacional

Regimento de Lagos- 1806- Recapitulando.

ESTADO MAIOR
Coronel António Hypólito da Costa.
Tenente-Coronel José Joaquim Ribeiro Lima.
Major Francisco Xavier Bustof.
Major Francisco Ribeiro Barata
Ajudante José Pereira de Lacerda
Ajudante João Rezende de Mendonça Pessanha
Quartel-Mestre Francisco de Paula Franco
Secretario Manoel Joaquim Correa
Capelão Padre José Maurício Sotto Maior

ESTADO MENOR
CirurgiãoMor António Camilo Pereira
Ajudante de Cirurgião António José de Lima Leitão
Ajudante de Cirurgião José Joaquim D´Oliveira
Ajudante de Cirurgião José Joaquim Franco
Ajudante de Cirurgião Luiz de José Miranda
Ajudante de Cirurgião João Romão Rodrigues Netto
Ajudante de Cirurgião Nicolau Joaquim Aguas
Tambor-Mór José Pedro
Cabo de tambores Joaquim Corrêa
Espingardeiro Joaquim José de Carvalho
Coronheiro Joaquim António d'Almeida

MÚSICOS
Mestre de Musica João Francisco Palheta
Segundo Mestre Manoel Francisco Chorim
Musico Manoel del Real
Musico Joaquim da Cruz Chorim
Musico Francisco António Nariguetta
Musico Francisco Gonçalves
Musico Carlos José
Musico Ignacio José
Bombo José Joaquim Picanço
Rufo José Joaquim


CAPITÃES
Capitão Companhia Granadeiros Diogo Rebelo Tavares
Capitão 1ª Companhia Álvaro de Macedo Pestana Coutinho
Capitão 2ª Companhia António Félix de Lacerda
Capitão 3ª Companhia João Manuel Mascarenhas d´ Andrade
Capitão 4ª Companhia Francisco de Paula Biker
Capitão 5ª Companhia Lourenço Martins Pegado
Capitão 6ª Companhia João Velloso Pessanha Cabral
Capitão 7ª Companhia Manuel de Mello
Capitão 8ª Companhia José Anacleto Lobo da Veiga
Capitão Companhia Caçadores José de Sousa Soares


TENENTES
Tenente Granadeiro Antonio Corrêa Leotte
Tenente 1ª Companhia Manoel Alexandre Pereira da Silva
Tenente 2ª Companhia Lazaro Soares d´Almeida
Tenente 3ª Companhia Pedro José Moreira
Tenente 4ª Companhia João Xavier Bustorf
Tenente 5ª Companhia - ?
Tenente 6ª Companhia António Maria Pinto
Tenente 7ª Companhia Simão Manuel d´ Azevedo Coutinho
Tenente 8ª Companhia Joaquim Manuel da Fonseca Silva
Tenente Caçadores António Correia Leotte

ALFERES
Alferes Granadeiro João Napomuceno d'Athayde
Alferes 1ª Companhia Francisco Rebello de Moura
Alferes 2ª Companhia José Anacleto Cabrita
Alferes 3ª Companhia José Xavier Bustorf
Alferes 4ª Companhia Loduvico José da Rosa
Alferes 5ª Companhia - José Mello de Brito
Alferes 6ª Companhia Joaquim Anacieto Lobo
Alferes 7ª Companhia José Candido d'Almeida
Alferes 8ª Companhia Francisco Correia Reboredo
Alferes Caçadores João Manuel Bandarra

PORTA-BANDEIRAS
Heitor Leão Banha
João da Silva Fragoso
Manuel Gerardo de Sousa

CADETES
Granadeiro Francisco de Paula Cabrita
Granadeiro José Corrêa de Lacerda .
Granadeiro Manuel Amâncio Biker
2ª companhia Gaspar de Villa Lobos
3ª companhia Joaquim Raphael de Lacerda
4ª companhia Bento José Tavares
5ª companhia José Pedro Tavares
6ª companhia José Maria da Nobrega
7ª companhia José Fortunato d'Azevedo
Caçadores Simão Francisco Cabrita
Caçadores Francisco Xavier Paiva

SARGENTOS
Granadeiro
Joaquim Manoel Martins
João Netto de Lima
1ª Companhia
José Silvério
Eugénio Dionísio
Manoel Joaquim Chibante
2ª Companhia
Lazaro da Silva Ferreira
Balthasar José Ribeiro Alvarenga
3ª Companhia
Manoel Viegas Cabrita
Pedro José da Costa Franco
4ª Companhia
Antonio Lobo
Vicente de Paula Rocha.
José Joaquim Corrêa .
5ª Companhia
José Miguel Aguiar
Sebastião de Pina Rosado
6ª Companhia
Antonio Joaquim do Carmo
Pedra Lino Abreu
7ª Companhia
Baptista da Silva Ferreira
Francisco de Paula Athayde
8ª Companhia
José Duarte
Francisco Duarte Furtado
Caçadores
José Veríssimo d' Almeida
Lourenço José

FURRIÉIS
Granadeiro
Manoel .Martins Rochate
1ª Companhia
Joaquim dos Santos Pincho
2ª Companhia
José Pedro
3ª Companhia
Manoel Antonio Fialho
4ª Companhia
Francisco Batista da Silva
5ª Companhia
Bernardo José da Veiga
6ª Companhia
Antonio Pedro Corrêa Salta
7ª Companhia
Joaquim de Sant'Anna
8ª Companhia
José da Silva Severo
Caçadores
Manoel José Gomes

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

General Manley Power


São raras as imagens dos oficiais britanicos que serviram no exército portugues durante a Guerra Peninsular.


Há pouco tempo, foi leiloada no Ebay uma miniatura de um desses grandes oficiais.

Trata-se do General Manley Power , com as suas condecorações. Bem visivel entre outras, a gravata e placa da Torre e Espada e a Medalha de Comando Portuguesa.
Tambem visiveis a ravata e placa da Ordem do Banho.
Ao pescoço a invejavel e unica cruz de ouro britanica da Guerra Peninsular, com a sua fita azul e vermelha.


Junto à imagen da miniatura, coloco uma pequena biografia, tal como sairá no livro já entregue à minha editora, volume dedicado às Divisões e Brigadas de Infantaria.


Estas são as carecateriticas tal como foram inseridas no Ebay.

Creation Year: ca 1820-30
Technique: gouache on ivoryMeasurements (unframed):
Measurements (framed): 10.7 by 9.8 cm period gilt brass frame
Style/subject: realism/portrait
Inscription: unsigned, inscribed at verso
Condition: good, ready to hang, vertical crack at centre
Restoration: no

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Alegoria à expulsão do exército francês de Portugal


SILVA, Joaquim Carneiro da, 1727-1818 [ Alegoria à expulsão do exército francês de Portugal ] [Visual gráfico]J.m Carneiro da Silva inv. 1809. - 1 desenho : tinta da china com aguadas ; 15,6x17,7 cm . - Parte do nome do autor escrita a lápis. - A. Aires de Carvalho - Catálogo da colecção de desenhos. BN, 1977, n.º 119

domingo, 21 de dezembro de 2008

Estado do Regimento de Infantaria de Lagos em 1806 - Porta-Bandeiras, Cadetes, Sargentos e Furrieis.

PORTA-BANDEIRAS
Heitor Leão Banha
João da Silva Fragoso
Manuel Gerardo de Sousa

CADETES
Granadeiro Francisco de Paula Cabrita
Granadeiro José Corrêa de Lacerda .
Granadeiro Manuel Amâncio Biker
2ª companhia Gaspar de Villa Lobos
3ª companhia Joaquim Raphael de Lacerda
4ª companhia Bento José Tavares
5ª companhia José Pedro Tavares
6ª companhia José Maria da Nobrega
7ª companhia José Fortunato d'Azevedo
Caçadores Simão Francisco Cabrita
Caçadores Francisco Xavier Paiva

SARGENTOS

Granadeiro
Joaquim Manoel Martins
João Netto de Lima
1ª Companhia
José Silvério
Eugénio Dionísio
Manoel Joaquim Chibante
2ª Companhia
Lazaro da Silva Ferreira
Balthasar José Ribeiro Alvarenga
3ª Companhia
Manoel Viegas Cabrita
Pedro José da Costa Franco
4ª Companhia
Antonio Lobo
Vicente de Paula Rocha.
José Joaquim Corrêa .
5ª Companhia
José Miguel Aguiar
Sebastião de Pina Rosado
6ª Companhia
Antonio Joaquim do Carmo
Pedra Lino Abreu
7ª Companhia
Baptista da Silva Ferreira
Francisco de Paula Athayde
8ª Companhia
José Duarte
Francisco Duarte Furtado
Caçadores
José Veríssimo d' Almeida
Lourenço José

FURRIÉIS

Granadeiro - Manoel .Martins Rochate
1ª Companhia - Joaquim dos Santos Pincho
2ª Companhia - José Pedro
3ª Companhia - Manoel Antonio Fialho
4ª Companhia - Francisco Batista da Silva
5ª Companhia - Bernardo José da Veiga
6ª Companhia - Antonio Pedro Corrêa Salta
7ª Companhia - Joaquim de Sant'Anna
8ª Companhia - José da Silva Severo
Caçadores -Manoel José Gomes

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Estado do Regimento de Infantaria de Lagos em 1806- Tenentes e Alferes.

TENENTES

Tenente Granadeiro Antonio Corrêa Leotte
Tenente 1ª Compª Manoel Alexandre Pereira da Silva
Tenente 2ª Compª Lazaro Soares d´Almeida
Tenente 3ª Compª Pedro José Moreira
Tenente 4ª Compª João Xavier Bustorf
Tenente 5ª Compª - ?
Tenente 6ª Compª António Maria Pinto
Tenente 7ª Compª Simão Manuel d´ Azevedo Coutinho
Tenente 8ª Compª Joaquim Manuel da Fonseca Silva
Tenente Caçadores António Correia Leotte

ALFERES
Alferes Granadeiro João Napomuceno d'Athayde
Alferes 1ª Compª Francisco Rebello de Moura
Alferes 2ª Compª José Anacleto Cabrita
Alferes 3ª Compª José Xavier Bustorf
Alferes 4ª Compª Loduvico José da Rosa
Alferes 5ª Compª - José Mello de Brito
Alferes 6ª Compª Joaquim Anacieto Lobo
Alferes 7ª Compª José Candido d'Almeida
Alferes 8ª Compª Francisco Correia Reboredo
Alferes Caçadores João Manuel Bandarra

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Estado do Regimento de Infantaria de Lagos em 1806- os Capitães.

Estado do Regimento de Infantaria de Lagos em 1806. 2ª Parte

CAPITÃES

Capitão Companhia Granadeiros Diogo Rebelo Tavares
Capitão 1ª Companhia Álvaro de Macedo Pestana Coutinho
Capitão 2ª Companhia António Félix de Lacerda
Capitão 3ª Companhia João Manuel Mascarenhas d´ Andrade
Capitão 4ª Companhia Francisco de Paula Biker
Capitão 5ª Companhia Lourenço Martins Pegado
Capitão 6ª Companhia João Velloso Pessanha Cabral
Capitão 7ª Companhia Manuel de Mello
Capitão 8ª Companhia José Anacleto Lobo da Veiga
Capitão Companhia Caçadores José de Sousa Soares

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Estado do Regimento de Infantaria de Lagos em 1806

Com tempo darei inicio a colocação de posts sobre o regimento de Lagos.

Dou inicio à colocação do "Casco do Regimento de infantaria nº2», começando pelo seu Estado-Maior.

ESTADO MAIOR
Coronel António Hypólito da Costa.
Tenente-Coronel José Joaquim Ribeiro Lima.
Major Francisco Xavier Bustof.
Major Francisco Ribeiro Barata
Ajudante José Pereira de Lacerda
Ajudante João Rezende de Mendonça Pessanha
Quartel-Mestre Francisco de Paula Franco
Secretario Manoel Joaquim Correa
Capelão Padre José Maurício Sotto Maior

ESTADO MENOR
CirurgiãoMor António Camilo Pereira
Ajudante de Cirurgião António José de Lima Leitão
Ajudante de Cirurgião José Joaquim D´Oliveira
Ajudante de Cirurgião José Joaquim Franco
Ajudante de Cirurgião Luiz de José Miranda
Ajudante de Cirurgião João Romão Rodrigues Netto
Ajudante de Cirurgião Nicolau Joaquim Aguas
Tambor-Mór José Pedro
Cabo de tambores Joaquim Corrêa
Espingardeiro Joaquim José de Carvalho
Coronheiro Joaquim António d'Almeida

MÚSICOS
Mestre de Musica João Francisco Palheta
Segundo Mestre Manoel Francisco Chorim
Musico Manoel del Real
Musico Joaquim da Cruz Chorim
Musico Francisco António Nariguetta
Musico Francisco Gonçalves
Musico Carlos José
Musico Ignacio José
Bombo José Joaquim Picanço
Rufo José Joaquim

[Continua]

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Há 200 anos. 11 de Dezembro de 1808. DECRETO DOS GOVERNADORES DO REINO MANDANDO PROCEDER AO ARMAMENTO GERAL DA NAÇÃO

A 11 de Dezembro de 1808 é publicado um decreto que determinava o armamento geral da nação[1].

Decreto dos governadores do reino mandando proceder ao armamento geral da nação
“Sendo a defesa da pátria o primeiro dever que a honra, a razão e a mesma natureza impõem a todos os homens quando uma nação barbara, desprezando os direitos mais sagrados que no mundo se conhecem, intenta reduzi-los à escravidão, roubando as suas propriedades, destruindo a sua religião, violando os templos e cometendo as maiores atrocidades que a perversidade dos costumes e a inumanidade pode fazer imaginar; e achando-se infelizmente Portugal ameaçado de sofrer todos estes males, sem que tenham os seus habitantes outro algum meio de evitar os horrores a que se vêem expostos, que não seja o de recorrer às armas para repelir pela força as perversas, sinistras, as odiosas intenções dos seus inimigos: sou servido determinar:
Que toda a nação portuguesa se armo pelo modo por que a cada um for possível;
Que todos os homens, sem excepção de pessoa ou classe, tenham uma espingarda ou pique com ponta de ferro de doze a treze palmos de comprido, e todas as mais armas que as suas possibilidades permitirem;
Que todas as cidades, vilas e povoações consideráveis se fortifiquem, tapando as entradas e ruas principais com dois, três e mais travezes, para que, reunindo-se aos seus habitantes todos os moradores dos lugares, aldeias e casais vizinhos, se defendam ali vigorosamente quando o inimigo se apresente;
Que todas as câmaras, e na cidade de Lisboa todos os ministros dos bairros, remetam no espaço de oito dias, depois da publicação deste meu real decreto, ao general governador das armas da respectiva província, uma relação das pessoas que pela sua actividade, desembaraço, bom comportamento e pela atenção dos povos, forem mais capazes para os comandar, preferindo em iguais circunstancias os que já forem oficiais de ordenanças, e declarando aqueles dos ditos oficias que pela sua idade, moléstias ou más qualidades, não deverem exercer os postos que ocupam;
Que todos os generais encarregados dos governos das armas das províncias dividam os seus governos em distritos grandes, e nomeiem um oficial de reconhecida actividade e probidade, seja de tropa de linha, milícias ou ordenanças, a quem todos os capitães móres e mais oficias de ordenanças obedecerão em virtude da mesma nomeação, para que passando às diferentes povoações do seu distrito, examinem o estado das companhias, nomeiem para oficiais delas (das pessoas escolhidas pelas câmaras) as que julgarem mais dignas e capazes, as quais começarão desde logo a exercer os seus lugares, e receberão depois as competentes nomeações dos sobreditos generais;
Que todas as companhias se reúnam nas suas povoações todos os domingos e dias santos para se exercitarem no uso das armas que tiverem e nas evoluções militares, compreendendo todos os homens de idade de quinze até sessenta anos.
Finalmente, que toda a pessoa que se não armar, recusando concorrer com a nação em geral para a defesa da pátria, seja presa e fique incursa na pena de morte, e que igualmente incorram na mesma pena de morte todos aqueles que fornecerem qualquer socorro ou auxilio aos inimigos com viveres ou de outra maneira;
Que pela mesma razão seja queimada e arrasada aquela povoação que se não defender contra os agressores deste reino, e lhes franquear a sua entrada, sem lhes fazer toda a resistência possível.
E mando a todos os generais e governadores das armas das províncias, ao intendente geral da policia e a todos os corregedores, ouvi dores, juízes de fora e ordinários, e geralmente a todos os oficiais militares, de justiça ou fazenda concorram para o cumprimento de tudo quanto neste meu real decreto vai determinado, o qual será afixado em todos os lugares públicos das cidades, vilas, lugares e povoações deste reino, para que chegue ao conhecimento de todos os seus habitantes.
O conselho de guerra o tenha assim entendido e faça executar. Pala cio do governo, em 11 de Dezembro de 1808. = (Com as rubricas dos governadores do reino.)”
[1] Cláudio Chaby, vol. 6, p.76 e Simão José da Luz Soriano, ibidem, vol 5 – 1ª parte, 2 época,, p.358.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Monumento ao Império Português.

Assim termina V.H.H.Green, na sua Obra “ Renascimento e Reforma[1] , o capitulo IV “ Ascensão e declínio do Império Português”.

Mas o brilho imperial desvanecera-se. Portugal iria daí em diante desempenhar um papel relativamente apagado na história europeia. E só nas fortalezas e nos templos que deixou espalhados pelo mundo inteiro, da Etiópia até à China, durante o século e meio da sua grandeza, podemos ainda encontrar-lhe um monumento condigno”

Pois é esse “monumento condigno” deixou entre outros, que se encontram 22 monumentos património da Humanidade, que se encontram AQUI.
" Portugal é o país com mais património classificado em todo o mundo, logo a seguir a Espanha, que tem 24 monumentos assinalados. Porém o património edificado por portugueses está dispersos pelos três continentes, enquanto “o espanhol está mais concentrado geograficamente”, designadamente na América Latina," Revista Tabu, de 29 de Dezembro, que faz parte do Jornal o Sol

Vale a pena fazer uma visita.
Conheça-os AQUI

África Etiópia Citadela de Fasil Ghebbi
África Gambia Ilha de James
África Gana Fortes e Castelos em Volta, Greater Accra
África Marrocos Cidade Portuguesa de Mazagão (El Jadida)
África Moçambique Ilha de Moçambique
África Senegal Ilha de Goreia
África Tanzania Ruínas de Kilwa e de Songo Mnara

América do Sul Argentina e Brasil Missões Jesuitas dos Guarani
América do Sul Brasil Centro Histórico de Diamantina
América do Sul Brasil Centro Histórico de Goiás
América do Sul Brasil Centro Histórico de Olinda
América do Sul Brasil Centro Histórico de Ouro Preto
América do Sul Brasil Centro Histórico de S. Luís
América do Sul Brasil Centro Histórico de S. Salvador
América do Sul Brasil Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas
América do Sul Paraguai Missões Jesuítas de Trinidad do Paraná e Jesus de Tavaranque América do Sul Uruguai Centro Histórico da Cidade de Colónia do Sacramento

Ásia Bahrain Sítio Arqueológico de Qal'at al-Bahrain
Ásia China Centro Histórico de Macau
Ásia Índia Igrejas e Conventos de Goa
Ásia Malásia Cidade Histórica de Malaca
Ásia Sri Lanka Cidade Velha de Galle e suas Fortificações

[1] Vivian Hubert Howard Green, “ Renascimento e Reforma. A Europa entre 1450 e 1660”, edições D. Quixote, 1991.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Glossário Uniformologia .

Glossário


Aba: Parte inferior de algumas peças de vestuário.
Acostelado: Termo antigo que significa alamar.
Alamar: Cordão de vários materiais que guarnece pela frente uma peça de vestuário, de um lado ao outro da abotoadura.
Alheta: Correia de fixar a barretina ao queixo, constituída por escamas metálicas interligadas entre si.
Alvadio: Tecido de lã não tingido e cujas tonalidades variam entre os brancos acinzentados e amarelados.
Alvado: Orifício do ferro da lança onde entra a haste.
Anil: Corante têxtil azul escuro, que se extrai dos caules e das folhas da planta com o mesmo nome.
Anspeçada: Antigo posto intermédio entre o cabo e o soldado; actualmente corresponde ao soldado arvorado.
Anta: Material proveniente da pele de tapir ou de búfalo.
Armão: Jogo dianteiro das peças e viaturas de artilharia hipomóvel.
Arminho: pêlo de animal das regiões polares usado como ornamento.
Astrackham: Pêlo de cordeiro de raça caracul muito frisado, usado sobretudo nos raglans.
Atanado: Material tratado com curtição especial, derivado da anta.
Attila: Túnica usada principalmente por hussardos, nomeadamente prussianos.
Azul Ferrete: Tom de azul escuro, muito aproximado ao azul Prússia e usado pelo Exército Português.
Azul Maria Luiza: Tom de azul aproximado ao azul marinho.
Bacalhau: Designação de abotoadura dupla mais larga na parte superior e mais estreita na parte inferior da peça de vestuário.
Baeta (ou baetilha): Tela de lã frouxa e de malha larga.
Bainha: Estojo de metal ou couro que resguarda a lâmina de uma arma branca; costura dobrada na extremidade de um tecido.
Baioneta: Lâmina de estoque que se fixa ao cano de uma arma ligeira.
Banda: Faixa ornamental, de tecidos nobres, que se usava à cintura ou a tiracolo.
Bandoleira: Cinturão cruzado sobre o ombro, onde se suspendia a cartucheira ou a baioneta.
Barregana: Tela de lã impermeável.
Barretina: Cobertura de cabeça, de formato que varia entre o cilíndrico e o troncónico, geralmente adornada com distintivos de vária natureza, encordoados e com plumas ou pompons colocados no topo.
Bicórnio: Chapéu com as abas reviradas para cima em dois lados.
Bivaque: Barrete comprido e achatado, feito basicamente de duas metades de tecido rectangulares.
Boldrié: Correia de couro ou de anta, usada a tiracolo para suspender a espada ou a cartucheira.
Borla: Ornamento de passamanaria composto de um botão de onde pendem tufos de fios em forma de campânula.
Bornal: Saco em que os soldados levavam as suas provisões.
Brandenbourgs: Também designados nós húngaros ou austríacos, consistiam em encordoados com formatos de laços e nós de vários materiais, aplicados principalmente em uniformes militares a partir da segunda metade do século XIX.
Briche: Pano grosso de lã castanha, próxima à saragoça ou ao burel.
Brim: Tela de linho grosseira e de grande espessura.
Burel: Tecido grosseiro de lã.
Cabeção: Gola pendente e larga sobreposta ao capote, normalmente amovível.
Caçador: Tipo de infantaria ligeira que actuava independente da infantaria de linha.
Cadeia: O mesmo que grilhão.
Calote: Parte superior das coberturas da cabeça.
Canana: Cartucheira usada a tiracolo por oficiais e tropas montadas.
Canhão (de manga): Parte inferior da manga ou do punho.
Canotão: Mais grosso que o canutilho.
Canutilho: Fio de ouro, prata ou outros materiais, fino e enrolado em espiral. Usado nas charlateiras, dragonas ou para guarnecer peças de vestuário.
Carabina: Arma curta para uso da cavalaria, artilharia e caçadores.
Carcela: Tira de pano que se ajusta a uma das bandas do vestuário onde estão os botões, ou aplicação de tecido sobre uma superfície da mesma natureza.
Carranca: Peça de metal com representações zoomórficas e com uma anilha suspensa, por onde passavam os cordões ou as correias das barretinas e dos capacetes.
Casa: Abertura ou aplicação no vestuário aonde se podem prender botões ou colocar guarnições.
Casão (ou cazão): Alfaiataria, sapataria ou secção de vendas de uma unidade militar.
Casquette: Em alemão Kaskett, consistindo num boné ou barretina baixo (ou achatado) e geralmente com viseira. Pode corresponder aos bonés de caserna usados pelo Exército Português a partir do Plano de Uniformes de 1834.
Castanho pinhão: Tom de castanho médio semelhante ao do antigo pano de saragoça.
Charlateira: Dragona de metal dourado, sem franja, usada em uniformes militares.
Cimeira: Ornamento do cimo do capacete e que pode tomar várias formas.
Conto: Extremidade inferior da lança.
Copo: Guarda da mão na espada.
Correia: Tira de couro que fixa a cobertura de cabeça ao queixo.
Cós: Tira das calças que rodeia a cintura.
Cotim: Tecido de grande densidade e resistência, de trama cruzada e feito de vários materiais, como linho ou algodão.
Couraça: Peça de protecção do tronco, geralmente metálica, que se unia em duas metades, peito e costas. Deu origem ao termo couraceiros (cuirassiers), que definem corpos de cavalaria pesada entre os séculos XVII e XIX. Em Portugal não existe tradição do uso deste tipo de cavalaria.
Crina: Pêlo de alguns animais que se usava na confecção de penachos para barretinas.
Debrum: Fita com que se guarnece a borda de um tecido; orla ou bainha.
Demi-Kaftan: Termo centro-europeu que significa túnica curta.
Divisas: Distintivos em vários materiais, que indicam os postos hierárquicos nas classes de sargentos e praças.
Dolman: Casaco curto e justo, geralmente adornado com alamares e nós húngaros.
Dragona: Pala ou galão, de lã ou metal dourado com franjas, usado em uniformes militares.
Espiguilha: Renda ou galão estreito com bicos.
Esteirinha: Designação de um tipo de galão cuja confecção se assemelha a uma esteira.
Facultativo: O mesmo que médico.
Farda: Designada também de casaca de abas. Peça de vestuário militar com abas, que variando de tamanho, não chegam à frente.
Feldkappe: Boné de caserna ou campanha usado pelos exércitos alemão e austríaco.
Feltro: Lã não tecida, usada geralmente em coberturas de cabeça.
Fiador: Correia que liga a espada ou o revólver à mão.
Florete: Arma branca, ligeira, que consiste numa lâmina prismática de metal e com um punho terminado por um botão em forma de flor.
Francalete: Correia com fivela para segurar o barrete, o equipamento, os arreios, etc.
Fundilho: Parte das calças correspondente ao assento.
Fuzilhão: Espigão da fivela que prende a presilha.
Galão: Distintivo que indica o posto hierárquico na classe de oficiais. Pode ser de diversos materiais.
Garance: Tecido de cor vermelha, usado pelo exército francês.
Gorgorão: Tecido encorpado de seda, algodão ou lã.
Gorjeira (gola): Peça metálica semi-circular (sécs. XVIII-XIX) que suspendia do pescoço e indicava o portador como estando em escala de serviço.
Gravata: Pequena área de tecido, com formato de manto, fita ou laço, que se usa à volta do pescoço com vários tipos de nós. Pode ser sinónimo do termo pescocinho, acessório usado nos uniformes militares portugueses entre o século XVIII e a Guerra Peninsular. De notar que alguns modelos de pescocinho podiam ser em couro, para melhor proteger o pescoço de golpes e garroteios.
Grilhão: Correia de fixar o capacete ao queixo em forma de corrente de elos circulares; o mesmo que cadeia.
Hussardo: Tipo de cavalaria ligeira que teve as suas origens em etnias da Europa Central.
Ilhó: Orifício por onde passa um atacador, uma fita, um cordão, etc.; também define o aro de metal com que se debrua o ilhó.
Indigo: O mesmo que anil.
Jaleco: Casaco curto ou jaqueta.
Jaqueta: Casaco de homem que só chega à cintura; jaleco.
Jaquetão: Jaqueta larga que chega até abaixo da cintura; jaqueta-dolman.
Képi (ou quépi): Boné ou barretina de origem francesa, com casco troncónico rebaixado para a frente e com viseira horizontal.
Khaki: Tecido de uso militar com tonalidades terrosas (do acastanhado ao cor de areia).
Kiwer: Barretina com tampo ondeado de origem prussiana e russa.
Laurel: Ornato de vários materiais com a forma de uma coroa de louros.
Liga: Fita elástica.
Macarrões: Sinónimo das platinas de cordão entrançado.
Maria Luiza: Caracteriza um tom de azul aproximado ao azul acinzentado.
Mescla: Tecido grosso e resistente, cuja trama se efectuava com o cruzamento de vários materiais ou de cores diferentes.
Mosquete: Arma de fogo, portátil, de ignição por pederneira (séc. XVIII) e posteriormente por percussão (a partir de 1830).
Nós húngaros (ou austríacos): O mesmo que Brandenbourgs.
Oliva: Peça de suporte do penacho da barretina.
Orleã: Tecido lustroso, cujo uso militar se confinava a forros e ornamentos.
Pala: Acessório da bainha de espada, terçado ou baioneta, que consiste numa peça de couro suspensa do cinturão e por onde passa a dita bainha.
Paletot: Galicismo que define um casaco curto; paletó.
Paroli: Rectângulos de tecido colorido aonde se aplicavam insígnias ou emblemas e que serviam para distinguir os regimentos no exército austríaco.
Passador: Tira de couro que se coloca no cinto ou no correame para segurar as pontas à saída da fivela.
Patrona: Espécie de cartucheira, geralmente suspensa por boldrié.
Peitilho: Plastrão ou peça de pano que se coloca sobre o peito para simular ou suprir o peito do casaco.
Pelica: Pele fina de carneiro ou cabrito para luvas e calçado.
Peliça: Jaqueta típica dos hussardos geralmente suspensa do ombro e que era mais decorativa do que funcional; artigo de abafo dos uniformes dos oficiais do exército com alamares de seda preta e guarnições de astrackam.
Penacho: Conjunto de penas ou outros materiais que constitui um tufo e que pode tomar várias formas.
Pescocinho: O mesmo que gravata.
Pestana: Tira de tecido que cobre a entrada de bolsos, algibeiras ou feitios no vestuário.
Pickelhaube: Capacete de origem prussiana, caracterizado por ter uma cimeira em pico.
Pico: Cimeira de capacete em forma de pico.
Plastrão: Peça de tecido ou metal que se usava sobre a casaca, jaqueta ou casaco.
Platina: Presilha de tecido aplicada no vestuário, onde os militares passam o correame ou seguram as divisas e galões.
Polaina: Peça de vestuário que resguarda a perna e a parte superior do calçado.
Praça de pret: Antiga definição da classe de praças.
Raglan: Tipo de casaco divulgado por Lord Raglan (Guerra da Crimeia) e que se caracterizava pelo seu tipo de mangas, prendendo ao tronco por uma costura diagonal do sovaco à gola.
Rebuço: Parte de capa ou capote com que se oculta o rosto; nos bonés ou nas suas capas corresponde ao cobre-nuca.
Quépi: O mesmo que képi.
Raquete: Adornos feitos com cordão de lã ou seda, a terminar em formato de borlas achatadas e que se usavam em determinados tipos de barretina.
Redingote: Casaco largo e comprido; o mesmo que sobrecasaca.
Retrós: Fio de seda torcido.
Sabre: Espada curva de um só fio, normalmente associada à cavalaria ligeira como os hussardos.
Sabretache (pasta): Pasta usada por oficiais montados, de configuração achatada e que se suspendia do cinto com correias compridas, sobre a espada.
Saragoça: Tecido grosso de lã, fabricado primitivamente na cidade espanhola de Saragoça; tecido castanho semelhante ao burel.
Sarja: Tecido de linho ou algodão, cuja trama forma linhas diagonais.
Serafina: Tecido de lã próprio para forros.
Schapska: Cobertura de cabeça com viseira, sendo o topo quadrado e afunilando para baixo e para o centro. De origem polaca, esta barretina foi a marca distintiva dos regimentos de lanceiros em todo o mundo, incluindo as unidades do Exército Português.
Silva (ou silvado): Galão bordado com motivo vegetalista.
Sobrecasaca: Casaco comprido, abotoado até à cinta, com abas em toda a roda.
Tachinho: Designação do boné ou barrete de caserna cilíndrico.
Talabarte: Cinturão; boldrié. Tira de cabedal com fivela que, passando por um ombro e cruzando o tórax em diagonal, suspende o cinturão.
Tartan: Tecido com padrões geométricos que representam as famílias nobres escocesas.
Telim (talim): O mesmo que cinturão ou boldrié.
Terçado: Espada curta.
Tope: Parte superior do penacho.
Torçal: Cordão de fios de retrós.
Trancelim: Trança estreita de fios de ouro ou de seda para guarnições.
Tulipa: Suporte metálico do penacho.
Túnica: Casaco solto e comprido.
Ulanka: Túnica de hussardo.
Vassourinha: Tipo de penacho pendente com o rebordo recortado em forma de vassoura.
Virola: Anel semi-circular de metal que servia para reforçar as palas ou viseiras de barretinas e bonés.
Vivo: Tira de tecido que forma o debrum em peças de vestuário.
Xabraque: Tipo de xairel com que se cobriam as ancas do cavalo e os coldres da sela.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.11 Conclusões

Conclusões.

O primeiro ponto comum no período que vai do Antigo Regime à Regeneração, traduziu-se pela constante adopção de figurinos externos, normalmente de potências militares que estivessem na moda. Portugal tendeu a seguir, com pequenas modificações, os figurinos militares em predominância nas respectivas épocas, à excepção de 1892, em que se tentou criar um estilo nacional, embora mantendo ligações a cânones estrangeiros. Assim foi de 1848 a 1869, com a introdução progressiva do ideário uniformológico francês, reflexo do poder militar do II Império.
Se, na segunda metade do século XIX, se adoptaram figurinos externos através dos planos de uniformes de 1848, 1856, e 1869, a sua implementação não foi linear, nem frequentemente bem definida. As sucessivas alterações ou modificações após cada plano de uniformes demonstram que o experimentalismo, que seria necessário antes de um novo sistema de fardamentos, se verificava a posteriori, e em vez de se verificar em unidades restritas, aplicava-se globalmente ao exército. Assim era difícil prever quais as deficiências a surgir na relação homem-uniforme.
Surgiram vários factores negativos, como a má qualidade dos lanifícios, que precipitavam o prematuro desgaste dos uniformes, a deficiente e a inadequada concepção daqueles, provocando o desconforto no soldado quando solicitado para os rigores das manobras e dos exercícios. As tinturarias de fraca qualidade, que aceleravam a má aparência dos fardamentos, podiam criar duas situações: uma que se traduzia num exército mal fardado e com mau aspecto, outra que para evitar a primeira obrigava à reposição constante dos artigos de fardamento. Tal situação pesava economicamente nos ministérios e arsenais, que se viam obrigados a destinar orçamentos para contratos de fornecimentos de têxteis e para a confecção contínua de materiais de fardamentos de curta duração ou desgaste precoce. Também pesava economicamente na bolsa individual do militar, já que, se os artigos de uniforme se degradassem ou se inutilizassem antes do tempo previsto, a sua reposição era feita a expensas do usuário. Por isso as tropas tendiam a poupar ao máximo os fardamentos, principalmente a nível do grande uniforme, realizando quase todos os serviços em pequeno uniforme ou no uniforme de faxina em brim. Ficava o grande uniforme remetido às solenidades ou às grandes formaturas cerimoniais, resumindo-se a ser usado poucas vezes durante o ano, acabando por criar uma imagem de mera fachada, pois era suposto que o conceito de grande uniforme, em termos gerais, acumulasse as funções cerimoniais e a possibilidade de ser usado em campanha como sucedia em outros exércitos. Tal não acontecia, tendo o soldado português exercido as suas funções, durante quase cinquenta anos, em jaqueta, barrete de caserna e calça de mescla ou de brim.
A paz interna e a não ingerência em conflitos externos nunca propiciou a aplicação real dos figurinos uniformológicos adoptados para Portugal ao longo da segunda metade do século XIX.
Outra grande problemática que rodeava o atribulado panorama dos figurinos militares portugueses, mas com raízes mais fundas no tempo, prendia-se com os próprios comportamentos individuais e colectivos dos militares e o seu posicionamento perante a sua instituição e a sociedade.
Verificamos que foram necessários numerosos decretos coercivos e abrangentes a todos os postos hierárquicos, obrigando a um maior uso do unifome e ao seu correcto atavio. Pelo lado dos oficiais, era visível que estes, fora da unidade, se trajavam à civil, parecendo querer quebrar socialmente os seus elos com a instituição. Isto parece denotar falta de motivação, descontentamento pela sua situação e pressões externas de um provável estigma de desvalorização social, corrente contrária à de outros países, onde a instituição militar era altamente valorizada, o que nos leva a um ponto de reflexão sobre a aceitação do exército perante a sociedade civil portuguesa na segunda metade do século XIX.
Ao nível dos sargentos e praças, a questão da aparência poder-se-ia ligar a uma certa resistência passiva aos sistemas viciados de recrutamento, às lacunas na aplicação das normas de disciplina individual e colectiva, no que diz respeito aos hábitos de higiene, atavio e saúde, que deficientes sistemas uniformológicos não ajudavam a melhorar. A frequente má qualidade dos fardamentos protegia mal o soldado das inclemências do tempo e do terreno, para além das más confecções dos uniformes, calçados e correames lhes transformarem o quotidiano em suplício, principalmente nos exercícios e nas manobras.
A Regeneração pretendeu pacificar o exército, dimensionando-o para uma missão de defesa nacional, mas não conseguiu erradicar alguns hábitos anteriores, permanecendo a instabilidade estrutural e de organização, situação que afectava a própria estrutura uniformológica, e criava toda a série de problemas que pudemos observar ao longo destes capítulos. A indefinição de objectivos específicos, o seguir das modas contra as especificidades e exigências das realidades do soldado português, a falta de controlo e selecção dos materiais, confecção e acabamentos dos fardamentos, as lacunas disciplinares e culturais existentes em muitos sectores do exército, as más condições de vida e económicas do militar, são alguns dos vectores que vão acompanhar a evolução do uniforme nesta época. Este panorama negativo foi amplamente tratado e denunciado por jovens oficiais, uns identificados e outros não, através de vários artigos publicados na Revista Militar e, sem dúvida, em outros tipos de publicação ou imprensa. Estes oficiais, afastados dos ministérios e de estados maiores de salão, contactavam com a realidade próxima das casernas e condições de vida dos soldados, constatando a inadequação, o desconforto ou a má qualidade de muitos dos fardamentos fornecidos. Alguns chegariam a denunciar situações em que os praças, para poupar os seus uniformes (grande e pequeno) andavam pelas casernas em “camisa e ceroulas”, sendo de calcular a vulnerabilidade destes homens às doenças, à falta de salubridade, para além dos seus muito reduzidos hábitos de higiene pessoal.
Estas variadas situações não implicavam que os planos de uniformes fossem de aparência anacrónica. De facto, em 1856 e 1869 os figurinos adoptados estavam estatisticamente de acordo com as modas militares da época, apesar das constantes dificuldades apresentadas pelas reorganizações do exército.
Não pensamos que este panorama fosse exclusivo do Exército Português, pois outros exércitos, grandes ou pequenos, teriam com certeza sofrido destes tipos de problemas, em maior ou menor escala.
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FIM

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.10

Capítulo 10. Uma tentativa de figurino nacional

O espectro político e económico de Portugal entra em crises profundas, que passam pela afronta do Ultimato britânico sobre os nossos territórios da Niassalândia (1890), como consequência da Conferência de Berlim de 1888 “(…) em 1890-93 é o fim. O ultimatum põe em causa o posicionamento tradicional de Portugal e leva a uma perda de credibilidade não só do governo, que em grande medida o provoca, mas do próprio regime. O modelo político logo se desmorona, com uma tendência para o fortalecimento dos extremos, uma perda de credibilidade dos partidos rotativos, o desenvolvimento de novas formas de luta política e o renascer do golpismo militar [31 de Janeiro de 1891], depois de quarenta anos de intervalo. O modelo económico, por seu lado, não aguenta a queda das remessas dos emigrantes, a alteração do sistema económico internacional e a crise financeira geral. (…) o crescimento de uma indústria virada para o mercado interno e para o Império, sem competitividade internacional.”(Telo, 1994, p. 63 - 64).
As crises despoletadas põem em risco a própria monarquia, que entra no seu declínio. Os ministérios, impotentes perante o monstro inglês, cedem perante violentas reacções internas por parte dos meios políticos republicanos, onde já se integravam todas as componentes sociais, incluindo militares. Daí o golpe de 31 de Janeiro de 1891, sufocado pela Guarda Municipal do Porto: “É sabido que o ultimatum britânico de 1890 e a revolta republicana de 1891 se acham indissoluvelmente ligados. Não escasseiam as fontes a comprovarem-no e não têm faltado os estudos a soldarem o elo, sobretudo na esfera política e militar” (“A Revolução de 31 de Janeiro de 1891”, 1991, p. 11) e que marca o retorno do já referido golpismo. Só o despoletar das campanhas de pacificação em Moçambique (1894) contra os régulos revoltosos vai acalmar e ofuscar as intentonas republicanas, mercê da imagem e dos exorcismos da afronta inglesa protagonizados pelo corpo de oficiais expedicionários, com ressalva para a figura do capitão Mouzinho de Albuquerque (“Exposição Histórico-militar em homenagem a Mouzinho de Albuquerque no 1º centenário do seu nascimento”, Porto, 1957).
O contexto geral europeu desenrolava-se agora sob os auspícios da Conferência de Berlim (1888), onde todos os países presentes, entre os quais Portugal, estabeleceram novas regras quanto aos domínios e à conservação de possessões coloniais. A capacidade de ocupação militar sobrepunha-se então aos direitos históricos (com prejuízo para Portugal face ao expansionismo britânico e aos gulosos olhos do governador dos domínios ingleses na África Austral, Cecil Rhodes). Só com inauditos esforços diplomáticos os pequenos países conseguem manter as suas fatias ultramarinas e outras nações, sem tradição colonial, lançam-se nessa aventura para marcar o seu lugar, como o fez a Itália que se lança no Norte de África, na Eritreia e na Abissínia.
Este período é de facto recheado de guerras coloniais sucessivas e sobrepostas. Wolseley esmaga os egípcios em 1882, Kitchener toma Khartoum em 1898 e entra em operações contra os Boers. A Itália sonha em ocupar Tunes e aponta os mapas para a África Oriental (Eritreia, Somália e Etiópia), com os desastrosos resultados militares de Adwa em 1896. No Extremo Oriente, um novo actor surge, o Japão, com uma nova e poderosa máquina militar que se vira para a Manchúria e para a Coreia, sem esquecer o Pacífico (Schnerb, 1983, p. 213 - 235).
A uniformologia dos exércitos europeus continuava a sua evolução no sentido da simplicidade prática, logo, eficaz. Os uniformes vistosos e coloridos remetiam-se para corpos cerimoniais (guardas reais na maioria), começando a surgir os fardamentos no seu sentido actual, onde pontuava o khaki inglês ou o feldblau germânico, com excepção do azul e escarlate franceses, ou do nosso plano de 1892 que, apesar das ambições de economia, fez as tropas, principalmente caçadores e infantaria, sofrerem um retrocesso estilístico em relação ao figurino prussiano. Estes fins do século XIX representam o adeus à cor nos exércitos europeus e americanos. As grandes potências iniciaram a adopção de uniformes monocromáticos, como por exemplo a Alemanha, cujas tropas mantêm fardamentos de feitios e dimensões tradicionais, como os hussardos, os uhlans (lanceiros) ou os jägers (caçadores de montanha), mas em tecidos feldblau, onde sobressaíam os vivos de cor encarnada ou de outros tons mais vivos (Nicholson, 1973, p. 13). No caso inglês, a década de 1890 via o seu exército ter dois tipos de uniformes, um colorido (com túnica escarlate) e um mais simples (pequeno uniforme) com confecção em tecido khaki. Nas grandes paradas, o exército vitoriano desta época continuava a desfilar em toda a sua glória, com casacos vermelhos e acessórios dourados e prateados, barretinas de pêlo de urso (Coldstream Guards, The Scottish and Irish Guards, etc.), capacetes de dragão e couraceiro, etc. (Laver, 1965, p. 140). O exército austríaco também começa a “escurecer” os seus uniformes de campanha em direcção ao feldblau (azul médio / escuro), deixando os seus exuberantes uniformes para as grandes ocasiões, que não eram poucas, sobretudo com a presença do imperador. O soldado de infantaria austríaco deixa de usar as suas veneráveis túnicas brancas, vendo-as substituídas por casacos azuis (o uniforme branco fica reservado para o imperador e para os oficiais generais) e calças cinza-azulado, com barretina de couro negro. As tropas húngaras (Honved) diferiam somente nas calças, azuis médio, e extremamente justas.
Os jäger fardavam-se de cinza claro, assim como a infantaria da Landwehr (tropas territoriais). As unidades distinguiam-se pela cor das golas, platinas e parolis (quadrados de tecido colorido que se aplicavam na golas) para além de outros paramentos uniformológicos. A cavalaria era mais exuberante, usando e abusando dos azuis-celeste. A Rússia segue esta linha em termos uniformológicos muito representativos de exércitos ligados a regimes conservadores, nos quais a exuberância marcial era símbolo de poder, centralizado no Kaiser, Emperor ou Czar (Mollo, 1972, p. 209 - 213).
É dentro deste panorama que surge a O.E. nº 25 de 12 de Setembro de 1892, contendo um plano de uniformes cujo resumo de intenções se pode captar no texto de abertura: “Sendo conveniente reunir em um só diploma todas as disposições que têem modificado o plano de uniformes para o exército, approvado por decreto de 1 de Outubro de 1885 e bem assim introduzir no referido plano várias alterações propostas pelos generaes commandantes e inspectores geraes das armas e chefes de serviços, as quaes têem sido aconselhadas pela prática ou foram impostas pela adopção dos novos padrões de lanifícios, hei por bem approvar e mandar pôr em execução o plano de uniformes para o exército que faz parte do presente decreto e baixa assignado pelo ministro e secretario de estado dos negocios da guerra.” Por aqui vemos a sumarização de todos os decretos que se seguiram ao plano de 1885 e por nós analisados. Os pontos mais importantes, ao longo de sete anos, traduziram-se na abolição do casaco e redefinição da jaqueta para um novo modelo mais longo, que acumulava as funções inerentes ao grande e ao pequeno uniforme pela aplicação e remoção de granadeiras sobre as platinas, já que os antigos macarrões haviam sido também abolidos.
Devido a questões de qualidade, o pano cor de pinhão é abolido da infantaria e de caçadores voltando-se ao tradicional azul ferrete. O próprio pano de mescla preta que servia para calças e capotes é substituído por mescla azul clara para o primeiro caso e por mescla azul escura para o segundo. Esta situação é algo paradoxal, porque se se aboliu o casaco por questões económicas, dado o pouco uso daquela peça o que não justificaria a sua existência, então porque se prescinde de um pano único para duas peças de fardamento, ao fim de muitos anos de tradição neste aspecto? Carecendo de confirmação documental, levantam-se contudo algumas hipóteses, sendo a primeira a de que o novo pano azul claro para calças seria muito mais aligeirado do que o antigo padrão, reservando-se uma gama de mescla mais pesada (azul-escura) para capotes. A segunda hipótese reside na eventual má qualidade dos tecidos usados anteriormente a esta medida, simultaneamente com o pano cor de pinhão fornecido desde 1885, ligando-se aqui uma terceira hipótese baseada em novos contratos de fornecimentos de lanifícios à base de tinturarias azuis (indigos ou anil), o que nos parece uma base sólida para um futuro trabalho ou debate sobre a estrutura, evolução e gestão dos lanifícios e contratos de fornecimento destes ao Exército.
Em termos de figurinos, desde 1886 que a indefinição pairou sobre a manifesta introdução de caracteres prussianos em uniformes do Exército. Toda a estrutura desse plano se foi desarticulando da intenção original, acabando por restar o capacete de pico como característica e elo de ligação a esse figurino. Situação esta que acabaria também por ser alterada com a supressão do capacete na espinha dorsal do Exército (infantaria e caçadores). Como Arma mais numerosa, era talvez a mais atingida pelas pressões económicas para se poder sustentar a operacionalidade de serviços mais dispendiosos como o de artilharia, tanto à custa da aquisição e manutenção de materiais modernos, como com a necessidade do respectivo municiamento. Também a cavalaria exigia fundos para a manutenção do seu parque equestre. Mesmo a própria engenharia militar, gozando de um elevado estatuto, devido ao seu próprio corpo de oficiais (que alimentavam uma boa parte do corpo docente das escolas especializadas do país), necessitava de apoio financeiro para a manutenção da rede telegráfica, das ferrovias militares e do serviço de fortificações.
Se em 1885 a infantaria de linha que, desde 1764 se fardava no azul ferrete tradicional, se submete a uma fusão cromática com os corpos de caçadores, ficando os dois corpos uniformizados em castanho pinhão, em 1892 vai suceder o inverso, é o azul ferrete que se torna a cor geral dessas tropas, quebrando uma tradição que vinha já da Guerra Peninsular e retirando um certo estatuto de elite aos caçadores.
De acordo com o que afirmava Satúrio Pires na sua história dos “Uniformes dos Corpos de Caçadores” (Lisboa, 1935), verificou-se mais uma alteração estilística e um pouco inesperada: “Se em 1868-9 o nosso exército se tinha fardado á franceza, se em 1885 o figurino escolhido fora, em parte, o allemão, agora em 1892, é a barretina italiana e a giuba italiana que, com o azul ferrete dos dolmans, e as mescla de tom azul claro das calças e calções, serão as características da nossa infantaria e caçadores. O porquê da adopção de estilos meridionais especificamente italianos, segundo este autor, é especulativo e carente de confirmação oficial. Isso nos leva a encarar somente hipóteses mas que cremos terem surgido a partir de um certo revanchismo anti-britânico devido ao ultimato. Se a economia de meios ditou o fim do capacete de feltro (de pouca durabilidade) e permitiu a continuidade dos stocks de capacetes de couro para engenharia, artilharia e cavalaria, porque não se voltou ao képi francês de 1868-69?
Apesar da França permanecer uma potência militar, já não ditava figurinos militares, para além de ser uma República laica. Num período de anticlericalismo, era um exemplo pouco edificante para adoptar numa monarquia como a portuguesa, que apesar de liberal, era ainda um garante do catolicismo de Estado. O retorno ao figurino inglês, em parte com similaridades ao prussiano desde 1879 (também usavam pickelhaube, embora com características próprias), estava fora de causa por razões globais. A opção de buscar influências na parte meridional da Europa, concretamente a Itália, parece reflectir uma bipolarização entre os ricos países do Norte, gigantes industriais e coloniais e os países mais pobres do Sul, ricos em tradição histórica e com passados gloriosos, mas agora atrasados industrial e economicamente. A estrutura militar italiana é pouco conhecida, só sobressaindo os lendários bersaglieri e voluntários garibaldinos, pioneiros da independência e unificação italiana. Contudo, é de crer que existissem similaridades estruturais entre o Exército Português e o Italiano, principalmente ao nível da exiguidade de meios militares e económicos para, no primeiro caso, manter um império e no segundo criá-lo. Assim parece ter existido um espírito solidário e romântico, ao adoptar-se o estilo de um país geograficamente próximo, que com falta de meios se procurava afirmar na Europa, à sombra do poderoso império austro-húngaro, tal como Portugal tentava sobreviver aos abusos do seu velho aliado britânico e à proximidade fronteiriça com o gigante espanhol.
Continuando a seguir o texto de Satúrio Pires, a nível das inovações, verificamos que o dolman de oficial, tendo-lhe sido suprimidos os alamares, passa a ser assertoado amplamente sobre o peito, com duas fileiras de oito botões, ganhando a denominação de bacalhau, dado essas fileiras estreitarem em direcção à cintura. Esse dolman serviria para todo o serviço, grande e pequeno uniforme, ordem de marcha, etc.. Só para serviços internos de quartel irá ser introduzido um dolman leve de flanela, com os distintivos de patente nas platinas dos ombros.
Os sargentos e cabos de infantaria e caçadores passarão a ter divisas pretas avivadas de azul claro (em 1885 esta ordem inverter-se-ia, afim de aumentar a visibilidade). Para proteger a nova barretina adopta-se uma cobertura de tecido impermeabilizado branco com cobertura para o sol, usando-se com o penacho removido.
Generaliza-se o uso de um novo modelo de calção para oficiais, sargentos e praças, padronizando o uso da bota ou do botim por fora.
O conjunto de jaquetão e calça de brim é autorizado para tropas em manobras e exercícios (Pires, 1935, folha nº 134).
O plano de uniformes de 1892 (O.E. nº 25/9/1892), tal como o de 1885, abre com uma longa série de disposições gerais, regulamentadoras das normas de manufactura dos artigos de fardamento. Assim, a partir do artigo 3º definiram-se os padrões de lanifícios para os novos uniformes.
Para dolmans, jaquetas-dolman e barretes da classe de sargentos de todas as Armas era destinado um tipo de pano azul ferrete (um designado padrão nº 1 a fornecer pelo arsenal) intermédio entre um tecido mais fraco para praças e outro superior para oficiais. Para as calças e calções dos mesmos, o novo padrão de mescla azul claro. Os restantes elementos do corpo de praças teriam fardamentos confeccionados com o já mencionado pano azul de inferior qualidade (padrão nº 20), assim como a mescla azul claro para calças e calções. A nível geral, o tecido para capotes, abandonada a mescla preta de 1885, passa a ser oficialmente a mescla azul escura.
Outros tipos de pano destinavam-se a acessórios do uniforme. Um pano azul claro (padrão nº 44) destinava-se a vivos e divisas de caçadores, companhias de administração militar e alunos da escola do exército. Pano preto (padrão nº 42) para guarnições e granadeiras dos uniformes das praças de engenharia, artilharia, infantaria, caçadores e companhias de administração militar. Pano carmesim para guarnições de infantaria e pano encarnado para guarnições e vivos das tropas de engenharia, artilharia e cavalaria. O pano branco reservava-se para o uniforme das praças reformadas.
Toda esta massa de lanifícios era gerida e entregue aos arsenais regimentais pela direcção geral de administração militar, intermediário directo com os contratadores de lanifícios, após aprovação pelas comissões gerais de fardamento.
As distinções entre unidades continuavam a ser realizadas pelas cores das guarnições, por números e emblemas (O.E. nº 25 de 12/9/1892, título I, capítulo I, p. 630 - 631).
Algumas determinações e regras continuavam a ser similares ao decretado no plano de uniformes de 1885, como nos artigos 5º a 7º que elucidavam sobre as medidas, dimensões e feitios das calças e calções dos diferentes postos hierárquicos, assim como as medidas e a configuração das golas dos casacos, dolmans e jaquetas.
Os emblemas são redefinidos, primeiramente nos materiais: para os sargentos e praças os emblemas e números regimentais seriam recortados em metal amarelo, excepto em lanceiros, onde seria utilizado metal branco. Seguia-se a descrição da emblemática e respectiva configuração a aplicar nas golas dos casacos e dolmans dos oficiais, sargentos e praças, também seguindo o ainda válido decreto de 1885.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.9

Capítulo 9. Contexto uniformológico do plano de 1885

A questão do plano de uniformes de 1885 pode ser ligada à reorganização do exército, levada a cabo em 1884, sob a responsabilidade do Ministro e Conselheiro Fontes Pereira de Melo. Esta reorganização marcou um passo no relançamento de uma ideia global de defesa eficaz da nação, conforme se pode verificar no discurso de apresentação deste projecto de lei na Câmara dos Deputados: “Ninguém contesta a urgência de dar ao nosso exército uma nova organização, pela qual tenha o país a garantia de uma defesa regular e prolongada, em harmonia com a sua população e os seus recursos; querem todos, porém, que não aumente a despesa que se faz com o ministério da guerra. O problema posto nestes termos é insolúvel.” (A. Coelho, 1988, p. 21). Mas se a reorganização perduraria mais ou menos intacta, mesmo com as alterações do sucessor de Fontes Pereira de Melo, o Conde de S. Januário e do General Sebastião Teles, não se registando desvios aos princípios gerais da comissão de 1884 (idem, p. 53), já o plano de 1885 vai ceder ao hábito de sofrer contínuas alterações, modificações ou supressões, e tal sucede, curiosamente, logo após a demissão do Ministro da Guerra, em 20 de Fevereiro de 1886, seguido do seu falecimento, decorrido quase um ano depois, em 22 de Janeiro de 1887.
Tão ambicioso como a reorganização do exército, este plano de 1885, que erradicara o figurino afrancesado de 1856, 1868 e 1869, adoptaria sem hesitações a aparência prussianizante que é patente nos seus fardamentos. Seria, sem dúvida, um passo muito dispendioso a dar, para reuniformizar todo o exército, mas estava-se decidido a dá-lo. A prová-lo está a própria estrutura do plano, que era muito completo, eloquente e sem mal entendidos quanto às matérias decretadas, em tudo auxiliado por uma iconografia excelente e de fácil compreensão.
O plano de uniformes contido na O.E. nº 15 de 5/10/1885, já decretado em 1 de Outubro desse ano, é precedido de uma longa série de disposições gerais que regulamentariam todos os aspectos essenciais para implementação desta nova legislatura sobre os fardamentos do Exército Português.
A cor azul ferrete era mantida nos casacos, dolmans e barretes de pequeno uniforme, para o Estado Maior General (E.M.G), Corpo de Estado Maior (C.E.M), das Armas de engenharia, artilharia e cavalaria. A cor pinhão era alargada dos caçadores para os regimentos de infantaria de linha, diferenciando-se uns e outros pela cor das golas; negras para caçadores e encarnadas para a infantaria de linha. Para além da infantaria de linha, as golas encarnadas eram destinadas também ao E.M.G, ao C.E.M., à artilharia e cavalaria, enquanto que a engenharia usaria golas de tecido preto como os caçadores. Para as unidades não combatentes as golas seriam em azul claro, carmesim para os serviços de saúde militar e golas brancas para militares na reforma até ao posto de coronel.
O pano designado de mescla escura, que deveria ser quase negra, seria usado para a confecção dos capotes e das calças do Exército, com excepção das calças de infantaria e caçadores que seriam em pano ou saragoça cor de pinhão. Ao Estado Maior General reservava-se o uso exclusivo da calça azul ferrete para o grande uniforme ou 1o uniforme (O.E. nº 15 de 5/10/1885, título I, capítulo I, p. 308).
Do artigo 5º ao artigo 7º do capítulo I das disposições gerais, são especificados os pormenores relativos às calças regulamentares. Assim, as listas de pano para aplicação na parte exterior das calças deveriam medir 2,2 cm de largura e, quando fossem duplas, teriam um espaço intermédio de 3 mm. Esta última medida aplicava-se igualmente aos vivos que guarneciam todo o fardamento. Este tipo de ornamentação teria a mesma cor das golas dos casacos e dos dolmans. Abria-se uma excepção para as calças azuis ferrete, dos oficiais generais, a que se aplicava galão de ouro, que nesta O.E. é denominado de Imperador. O comprimento das calças dos sargentos e praças apeados devia ser embainhado, de maneira a que ficasse distante do solo 3,3 cm, tendo os pés unidos, em posição de sentido. Para as tropas montadas, a calça devia ser mais comprida, de maneira a assentar sobre a pua da espora, ao nível do tacão da bota.
Os oficiais não são referidos neste caso, o que demonstra o seu estatuto superior, e a liberdade de assentarem as calças sobre o calçado, conforme a sua altura ou compleição (idem, capítulo I, artigos 5º a 7º, p. 309). Seguidamente foi contemplado o capote, no qual, conforme o modelo, variava a distância da bainha, ou orla, até ao solo. Nas tropas apeadas essa distância mediria 33 cm, e nas tropas montadas ficava-se pelos 20 cm, isto para melhor proteger o usuário quando no serviço a cavalo.
Em relação aos 22 cm determinados em 1856, verificamos que a bainha dos capotes de tropas apeadas sobe 11 cm, dando eco a muitas queixas, cujo argumento se baseava no embaraço de movimentos, causado pelo excessivo comprimento e peso das abas inferiores do capote. (O.E. nº 15 de 5/10/1885, título I, capítulo I, artigos 5º a 7º, p. 309). Para as tropas a cavalo, não se verificam alterações nas medidas desta natureza.
Para o reforço de protecção, tanto para a chuva como para o frio, todos os modelos continuariam a possuir um cabeção de dimensões variáveis, amovível e que se fixava por meio de três pequenos botões. Um desses botões era pregado na costura central que unia a gola ao capote e os outros dois nas extremidades. No caso do cabeção curto, mais apropriado para tropas apeadas, a orla alcançava o meio do antebraço. Na versão longa, de cavalaria, a orla deveria chegar à última falange dos dedos das mãos, quando os braços estivessem estendidos naturalmente ao longo do corpo (idem, ibidem).
Quanto às peças superiores básicas, ou seja, o casaco, o dolman e a jaqueta, as suas golas são redefinidas. Com a introdução definitiva da gola aberta, mediria 20º a incidência do ângulo da referida abertura. Estas golas teriam uma altura variável de 3,5 a 4 cm, conforme a peça, e os cantos deviam ser arredondados. Abdicando-se definitivamente das cores regimentais, a distinção passa a ser feita através de emblemas de Arma, ou números regimentais, que para os oficiais seriam bordados a ouro. Para os sargentos e praças, os emblemas e números seriam de metal, excepto nas jaquetas e na sua extrapolação, o jaleco, aonde seriam recortados em pano da cor da gola dos casacos, excepto para os caçadores que os teriam em cor verde.
Em termos descritivos, estes emblemas consistiam em: para os generais, um bordado a ouro na gola do casaco, herdeiro do modelo (à austríaca) de 1856. O modelo é visível na figura nº 1 da O.E n 15 de 5/10/1885. Os generais de divisão usavam três estrelas de prata e os generais de brigada só duas similares. A figura nº 29 demonstra a configuração dessa estrela de cinco pontas. A sua colocação na gola do dolman é descrita na figura nº 2 do plano de ilustrações explicativas desta O.E.. O emblema do Corpo de Estado Maior do Exército, a colocar na gola do dolman, consistia no óculo e na espada cruzados (conforme se pode ver na figura nº 4) e num galão de ouro do padrão representado na figura nº 3, esse a ser aplicado na gola do casaco em grande uniforme.
A Arma de engenharia continuava a ser representada por um castelo (figura nº 5), cuja aplicação era comum ao casaco e ao dolman. Esse conceito era similar ao determinado para a artilharia, cujo emblema era uma granada flamejante (figura nº 6) e, para a cavalaria, variavam os emblemas entre os sabres cruzados para caçadores a cavalo e as lanças cruzadas para os lanceiros (figuras nº 7 e nº 8). A infantaria continuava a usar os mosquetes cruzados, símbolo que se estendeu aos caçadores a pé, deixando de arvorar a tradicional corneta (figuras nº 9 e nº 10).
Continua

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Medalhas da Guerra Peninsular.

Aqui ficam esta execlente imagem de medalhas de comando e cruzes portuguesas da guerra peninsular.





Fazem parte de um catalogo da Christie’s.( aqui )





Uma delícia.

Uniformologia Militar Portuguesa.8

Capítulo 8. Os Contingentes Coloniais
Um dos factores de evolução uniformológica que se torna visível a partir de 1870 é a influência colonial.
Em 1871, Portugal vê-se na contingência de enviar para o Estado da Índia (Goa) um batalhão expedicionário de infantaria para integrar a guarnição daquele território ultramarino. A reestruturação da guarnição havia sido levada a cabo pelo novo governador, Macedo e Couto, que havia substituído o visconde de S. Januário. A nova estrutura passava a ser constituída por oito companhias de polícia, uma bateria de artilharia operada para tropas indígenas e um batalhão de infantaria da metrópole. Esse batalhão teria sido enviado para intervir contra um levantamento de tropas indígenas contra o antigo governador, o visconde de S. Januário. Partindo em Novembro de 1871, sob o comando de Francisco José da Silva, e acompanhado pelo infante D. Augusto e o novo governador Macedo e Couto, este batalhão não chega a entrar em acção, graças ao acalmar da situação. No entanto, devido ao reacender dos motins, o batalhão metropolitano acabaria por entrar em campanha (Martins, 1945, p. 401- 412).
As Ordens do Exército da época são bem claras quanto à preparação deste batalhão para a Índia, introduzindo acessórios com funções específicas para operações coloniais: “Secretaria d’estado dos negócios da guerra - Direcção Geral - 4ª Repartição - Illmº exmº Sr. - S. exª o ministro da guerra encarrega-me de dizer a v. exª que se sirva ordenar que sejam feitas com a máxima brevidade seiscentas capas de linho branco para barretinas, as quaes devem cobrir a pala e ser guarnecidas de rebuço; por isso que são destinadas ao batalhão de caçadores nº 1, que brevemente seguirá viagem para Goa.
Deus guarde a v. exª Secretaria d’estado dos negócios da guerra - Illmº e exmº sr. Director geral de artilharia - o director geral, D. António José de Mello.
Secretaria d’estado dos negócios da guerra - Direcção Geral - 4ª Repartição - Urgente - Comunica-se à direcção da administração militar que s. exª o ministro da guerra determina que, pela mesma administração, se proceda à compra de mil camisolas de malha de algodão para serem immediatamente fornecidas ao batalhão de caçadores nº 1, que vai seguir viagem para a Índia” (O.E. nº 43 de 3/10/1871, p. 336).
Na O.E. nº 44 de 10 de Outubro de 1871 é publicado o plano descritivo, sem iconografia, de fardamento, armamento e equipamento para o batalhão expedicionário para a Índia. Não foram designados quaisquer tipos de barretina nem mesmo a regulamentar de 1868 - 1869, optando-se por um barrete, em forma de képi com tampo mole. Era confeccionado em pano azul ferrete, os vivos encarnados e sem penacho. A pala era quadrada, envernizada de preto pela parte superior e verde no lado inferior; a correia era envernizada de preto com fivela de latão. Para completar o conjunto eram aplicadas, quando necessário, as capas de pano de linho branco, que ajudariam a suportar o efeito directo do sol.
O casaco seria talhado sem recorte de cintura e folgado. A calça de grande uniforme continuava a ser o modelo de mescla escura e para marchas e serviço de caserna era distribuída a versão em brim branco.
Todo o restante equipamento, como gravata, calçado, divisas das praças graduadas (sargentos e cabos), capote, artigos de fardamento e pequeno equipamento da dotação individual, permanecia o das ordenanças de 1856 e 1868 - 1869.
No caso específico dos oficiais, todos os artigos de uniforme e equipamento eram similares aos dos sargentos e praças, diferindo pela melhor qualidade dos panos empregues na confecção do barrete, do casaco e das calças. Os botões dos casacos seriam dourados e não de metal amarelo, continuando-se a usar as charlateiras regulamentares, assim como a banda e as luvas dos oficiais de infantaria dos regimentos da metrópole.
Quanto ao armamento, este era o usado pelas unidades de infantaria do Exército, consistindo no sabre regulamentar para os oficiais e muito provavelmente modelos de revólver de aquisição particular. Os sargentos e praças seriam equipados com a carabina para caçadores, de retrocarga, Westley-Richards, de calibre 14 mm. Para além do sabre-baioneta que acompanhava a respectiva arma, o correame que equiparia as tropas seria do mesmo modelo da infantaria de linha, consistindo no cinturão, nas cartucheiras e nas patronas introduzidos em 1855, mais os necessários bornais, cantis e mochilas que formavam a dotação de campanha (O.E. nº 44 de 10/10/1871).
Como já se pôde verificar, o batalhão expedicionário português enviado à Índia, em 1871, ia basicamente uniformizado com fardamentos adaptados ao clima nacional e não aos climas tropicais, mantendo o uso do sombrio casaco de pano azul ferrete e das não menos sombrias calças de mescla. Embora se contemplassem as calças de brim branco, de pequeno uniforme, para uso nas marchas e faxinas, a outra única concessão ao clima quente e húmido era a capa de linho branco para o képi, que também era confeccionado com pano azul ferrete. Por conservadorismo, ou por ignorância do teatro de campanha que ia enfrentar, a comissão encarregada de organizar o batalhão não optou por criar um uniforme tropical, em pano branco ou mesmo khaki, como já havia feito a Inglaterra.
Na verdade, estas intervenções militares portuguesas nas suas possessões ultramarinas são ainda pontuais e a experiência militar colonial não era então suficiente para se formar um real juízo das necessidades dos soldados em campanha fora de Portugal. Contudo, pena é que não se decidisse seguir cegamente um figurino colonial inglês ou francês, já com provas dadas, optando-se por realizar uma versão do uniforme metropolitano.
Se assim aconteceu na expedição de 1871, o mesmo se repete na campanha dos Dembos, em Angola, quando se enviou um batalhão expedicionário. O plano de fardamento desta unidade é em tudo semelhante ao já decretado para o batalhão enviado à Índia (O.E. nº 43 de 3/10/1871, p. 348 - 349). A única diferença surge no casaco, cujos vivos e presilhas de ombro são brancos em vez dos encarnados de 1871. Também o forro, em lugar do pano encarnado, é de tecido preto (O.E. nº 5 de 15/2/1873, p. 39).
O armamento e o correame também diferem, começando pelo primeiro, em que a carabina Westley-Richards é substituída pela nova espingarda de retrocarga do modelo Snider-Barnett m/1872, com que se equiparam os sargentos e praças. Aquele tipo de arma surgia a partir da antiga espingarda Enfield, estriada, a que era aplicada uma nova culatra de alçapão do referido modelo Snider de concepção britânica. Os oficiais, tal como em 1871, teriam a espada regulamentar do exército da metrópole e também a provável posse particular de revólveres para defesa pessoal. O correame seria em anta branca, assim como as cartucheiras e patronas. A mochila de víveres seria confeccionada em pano de brim cru branco, os malotes do capote em material semelhante e o cantil seria em folha de Flandres (idem, p. 40). No último caso, seria de imaginar o efeito do calor sobre um cantil de água (ou vinho) feito em chapa, que não estivesse devidamente isolado por tecido ou cortiça.
Assim, o princípio e o conceito que deram origem ao batalhão expedicionário à Índia em 1871, voltam a ser usados em 1873. Enviar tropas para climas tropicais ou aproximados com fardamentos adaptados ao clima temperado europeu, revelava total desconexão com a realidade das campanhas em teatro colonial. Um soldado desses batalhões só poderia contar com a boa vontade de um corpo de oficiais que lhe permitisse combater em camisola de algodão e com as calças de brim. E para se cobrir restava-lhe o képi azul, embora encapado de branco, já que este acumulava as funções de barretina e barrete de caserna.
Como foi possível verificar ao longo deste texto, a evolução do uniforme militar português nos períodos iniciais da Regeneração, para além dos planos de fardamento, foi pautada por numerosos decretos, portarias e circulares que alteravam, modificavam ou ampliavam as legislaturas de base. Muitas circunstâncias estão documentadas, outras situam-se no campo das hipóteses que, carecendo de comprovação documental, podem servir para futuras propostas de trabalho ou de debate.
Continua

domingo, 23 de novembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.7

Capítulo 7. A introdução da moda militar francesa.

A Ordem do Exército nº 80 de 31 de Janeiro de 1868 é o ponto de partida das novas modificações nos fardamentos do exército, que além de apontarem para uma relativa simplificação, são a assumida adopção do estilo francês. Desta vez, todas as alterações, modificações ou novos modelos foram descritos de forma gráfica, através de gravuras explicativas, contendo os talhes, feitios e dimensões em centímetros.
A grande novidade deste plano foi a nova barretina, tombada para a frente, à francesa, tipo képi. O modelo de barretina francesa de 1862 teria servido de inspiração à nossa nova barretina de 1868, sendo o recorte praticamente igual, assim como a altura do conjunto (13,5 cm). Estranhamente a barretina portuguesa não apresentava furos de ventilação passiva visíveis. Confeccionadas em couro negro, estas barretinas eram reforçadas no topo, em baixo, e verticalmente, com duas tiras em V em cada lado, existindo ainda um reforço semicircular na parte posterior. As alhetas e as cadeias são abandonadas a favor da tira de couro com fivela. A pala, que deveria ser de couro envernizado preto, era recta, arredondando nas extremidades. Media 17 cm de largura e 4,2 cm de comprimento, ficando a 90º em relação ao eixo do casco.
O penacho, agora de uso geral, tornara-se cónico, assentando sobre uma túlipa metálica de dois modelos, um mais elaborado, que se pode observar montado na barretina, para oficiais, e outro mais simples para sargentos e praças e que está representado ao lado esquerdo do primeiro (Vd. quadro iconográfico nº 1 da O.E. nº 80 de 31/12/1868).
A chapa é mais uma vez substituída, abandonando-se o troféu de armas de 1856, assim como a corneta de caçadores, para se voltar a usar a chapa em forma de sol, onde seriam colocados pequenos círculos de 4 cm, com o emblema da respectiva Arma. As barretinas para os sargentos ajudantes, sargentos quartéis-mestres e contramestres de música, seriam deste modelo, mas com o casco de feltro.
Os casacos (representados na folha com o quadro iconográfico nº 1) continuaram a apresentar o feitio cintado, tendo já as golas baixas e abertas, com canhões da manga em ângulo, excepto para infantaria (Vd. quadro iconográfico nº 2 da O.E. nº 80 de 31/12/1868). Os casacos para caçadores a pé deixaram de ter alamares, embora conservassem os nós húngaros nos canhões das mangas; na gola deveria ser aplicada uma fita preta de 1,2 cm. Os caçadores a cavalo, embora conservassem a jaqueta à hussarda, do grande uniforme, tinham para serviço de quartel um casaco que agora deveria ser similar aos dos caçadores a pé. Os casacos das tropas apeadas continuaram a ter presilhas de ombro, e as dos oficiais e tropas a cavalo possuíam passadores para as charlateiras. As pestanas das abas posteriores são modificadas, passando a ter três botões de cada lado em vez dos dois do modelo de 1856 (Vd. quadro iconográfico nº 2 da O.E. nº 80 de 31/12/1868).
De um modo geral, os modelos de casaco do Exército foram simplificados e relativamente estandardizados. As jaquetas, cujos moldes estão presentes no quadro nº 2, assim como os bonés de caserna (tachinhos), continuaram a ser confeccionados em pano azul ferrete e saragoça.
Pela primeira vez a roupa branca é representada exactamente: a camisa que abria só até meio do peito e não tinha colarinhos rebatíveis, e a ceroula que possuía cordões para ajustar à cintura e também aos tornozelos.
A Ordem do Exército nº 80 não se limitou, contudo, a apresentar as gravuras explicativas do figurino a adoptar. Decretou igualmente as regras para o fornecimento de vestuário e calçado para o Exército, através de arrematações, sendo estas fiscalizadas e inspeccionadas pelo Arsenal do Exército. Além disso regulamentavam-se os tipos de pagamento sobre os artigos de fardamento a fornecer às tropas.
Esta O.E. nº 80 delineou o figurino definitivo do Exército Português até ao plano de uniformes de 1885, com apenas algumas pequenas alterações pontuais.
À O.E. nº 80 de 31 de Dezembro de 1868, cujo conteúdo principal se baseava na informação gráfica, vêm-se somar descrições mais pormenorizadas num processo gradual ao longo do ano seguinte. Assim, em decreto de 14 de Janeiro de 1869 (O.E. nº 4 de 19/1/1869) são regulamentadas as alterações aos uniformes do modelo de 1856 ainda usados pelos oficiais.
Todo este processo de modificação dos uniformes de 1856, levado a cabo entre 1868 e 1869, regularizou-se e simplificou de tal forma o figurino militar português, apesar do profundo afrancesamento deste, que até 1876 as críticas aos sistemas de fardamentos vão-se manter em silêncio, pelo menos na Revista Militar onde, até à data referida, os uniformes deixam de estar sob a mira dos articulistas. Parecia ter-se chegado a um ponto de equilíbrio entre o decretado para os uniformes e a realidade do uso dos mesmos, porque as queixas quase desapareceram, deixando de ser tornadas públicas durante quase oito anos.
Continua

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.6

Capítulo 6. A transição para a Regeneração
No ano de 1852, em pleno início da Regeneração, num novo tipo de regime que pretendia solidificar a figura do Estado, havia que obrigatoriamente reestruturar a força armada da Nação e ao mesmo tempo refazer a sua imagem: criar um exército pequeno, contudo disciplinado e equipado, marcando a distância com a sociedade civil, destinado primeiro à defesa e só depois ao policiamento interno. Contudo não se podia levar a cabo tal projecto sem atentar às exauridas finanças nacionais e aos limitados orçamentos militares, mesmo implicando questões aparentemente pacíficas como a aparência das tropas. O plano de uniformes de 1848, com a aquisição dos novos fardamentos para substituir os dos modelos de 1834, implicava uma série de novas despesas que muitos militares, mesmo oficiais abastados, não estariam dispostos a fazer de imediato. Aliada à ausência de moral e sentido profissional, a transição e modificação da aparência do soldado era ainda mais lenta, sobretudo se as oficinas e os abastecimentos de tecidos e materiais não satisfizessem atempadamente as necessidades dos arsenais.
Esta situação havia sido comentada em 1849 numa crónica interna da Revista Militar (1849, p. 115 - 116) em que, no dia 2 de Janeiro daquele ano, na parada de honra à sessão de abertura das cortes, se fez notar que algumas unidades de 1ª linha, não especificadas no texto, se apresentaram em pequeno uniforme, alegadamente devido às demoras na distribuição dos novos fardamentos. A crítica surge motivada pela solenidade do acto, assim como pela presença de entidades estrangeiras, o que afectava a imagem do Estado, principalmente pouco após o trauma da guerra de 1846. Nesse artigo sugeria-se que só deveriam ter comparecido as unidades já devidamente uniformizadas segundo o plano de 1848.
O período entre 1850 e 1852 destacou-se, sobretudo, pelas extensas modificações e alterações ao plano de 1848, demonstrando a incapacidade das comissões encarregadas de elaborar as legislaturas sobre uniformes em redigir um texto definitivo e coerente. Era assim dificultada a sua aplicação, criavam-se vazios legislativos que obrigavam a decretos a posteriori, com funções complementares. Tal poderia justificar a onda legislativa sobre uniformes, com o seu auge em 1852, já na vigência dos gabinetes regeneradores, deixando a sua presença no plano de 1848.
Após os períodos conturbados de 1848 em que a Europa se viu afectada por crises político-militares e sócio-económicas, às quais Portugal não ficou alheio, fosse pela Guerra da Patuleia de 1846 - 1847, fosse pelos processos políticos que antecederam a Regeneração (1851), seguiu-se um período de relativa paz europeia à excepção da Guerra da Crimeia de 1852 -1854.
É nesse contexto de relativa acalmia política que se decreta o plano de uniformes de 1856, após a existência agitada dos fardamentos do plano de 1848, constantemente sujeitos a modificações e alterações, como sucedeu em 1850, 1851 e 1852.
Desta vez, este plano de uniformes não surge de um só decreto, mas foi dividido em várias partes, cada uma delas respeitando a diferentes Armas e serviços. Pode-se afirmar que foi um plano bastante pormenorizado, tanto no plano descritivo como no plano esquemático, embora não apresente figuras de corpo inteiro de soldados e oficiais em fardamento completo, como havia sucedido em 1834 e 1848.
Além do casaco, surge um novo calçado para infantaria, baseado nas já referidas experiências de 1855, constituído por sapato aberto com cordões, ao qual se junta polaina de couro fixa com fivelas, mas usando-se por debaixo da calça. Continuamos aqui a levantar dúvidas quanto à utilidade deste processo de uso da nova polaina.
As calças, em geral, seriam feitas num novo padrão de mescla, que teria sido distribuído em pequenas amostras acompanhando os planos destinados às unidades militares. Dando crédito às aguarelas do Coronel Ribeiro Arthur, que ilustram os militares saídos do plano de 1856, a mescla das calças seria consideravelmente mais clara do que a usada a partir de 1848. Para o Verão, integrada no pequeno uniforme, é claramente citada a calça branca de brim, que não havia sido referida em 1834 e 1848.
As barretinas mantêm-se no padrão de 1848, mas as antigas chapas de estrela com coroa real e designação regimental são substituídas por novos modelos que consistiam num troféu de armas à volta do escudo real português (O.E. nº 16 de 2/4/1856, decreto de 10 de Março).
Uma das inovações mais importantes e que reflecte claramente a adopção de figurinos estrangeiros surge nos regimentos de caçadores a cavalo. Estes, conforme o artigo correspondente na Ordem do Exército nº 22, de 6 de Maio de 1856, passam a usar jaqueta cor de saragoça, tal como os caçadores de infantaria. Neste caso, este tipo de regimentos passa a apresentar uma aparência profundamente afrancesada, similar às unidades de hussardos do período de Napoleão III.
No plano de 1856 surgiu um item muito interessante e inovador quanto ao nível de informação dado em planos de uniformes anteriores, tratando-se de uma descrição pormenorizada dos pertences que constituíam a dotação individual do soldado:
· uma barretina com capa de oleado (modelo de 1848)
· um penacho
· cordões para a barretina
· um casaco (grande uniforme)
· uma gravata (grande uniforme)
· um par de calças de saragoça (grande uniforme)
· dois pares de calças de brim (pequeno uniforme)
· um barrete de “polícia” (modelo de 1852, para pequeno uniforme)
· uma jaqueta de “polícia” (pequeno uniforme)
· três camisas (uso geral)
· dois pares de sapatos (uso geral)
· um par de polainas (grande uniforme)
· um capote (uso geral)
· uma escova de fato
· uma escova de botas
· um espelho circular, protegido por caixa metálica com 8 cm de diâmetro
· uma navalha de barba
· um pente fino
· uma tesoura pequena
· um “agulheiro de páo” com agulhas
· um pequeno saco de “panninho” com linhas e botões
· uma faca sem ponta com 17 cm de comprimento (Rancho)
· um garfo de 17 cm de comprimento (Rancho)
· uma colher de 17 cm de comprimento (Rancho)
· uma caixa de graxa para calçado
· uma caixa com graxa de cera preta e pomada para o armamento
Como podemos verificar são distribuídos vinte e seis artigos que constituem o vestuário regulamentar e respectivos acessórios de atavio e de higiene. É patente a intenção de racionalizar e disciplinar a dotação individual do militar e o uso que o próprio lhe poderá dar. Podem-se encontrar aqui conceitos essenciais, que dizem respeito à disciplina do uniforme e da aparência e um reflexo do reinado breve, mas esclarecido, de D. Pedro V. O fardamento devia identificar o portador como personagem social e gerar uma melhor e elitizada imagem perante a sociedade.
Às amplas reestruturações de 1856 não é estranha a acção do jovem rei D. Pedro V, que desde cedo demonstrou grande interesse e lucidez de ideias quanto à necessidade da existência de um exército eficaz e bem armado, o que pode ser verificado através da leitura da obra “D. Pedro V e os assuntos militares”, tese de doutoramento do Doutor Fortunato Queirós, publicada pela FLUP em 1972.
O plano de uniformes de 1856 foi o primeiro passo da adopção do figurino francês, assim como uma real actualização da estrutura uniformológica do Exército Português, colocando-o mais de acordo com a sua época.
Um ano antes do plano de 1856 já se havia levado a cabo a experimentação dos novos fardamentos, onde sobressaía o casaco. Passava-se a usar uma peça actualizada, cuja adopção tardia coincidia com a situação similar do exército britânico, que usava casaco ou túnica desde 1855. Tal justificava um processo de evolução paritário, em que a Inglaterra se adiantava a Portugal numa pequena margem cronológica, e ambos se distanciavam de outras potências europeias de dez a vinte anos, isto apesar de o Exército Português se ter afastado dos estilos britânicos.
Em termos específicos, o plano de 1856 trouxe de novo o casaco para todos os graus hierárquicos e para a maioria dos corpos do Exército, à excepção dos caçadores a cavalo que iriam estrear uma nova jaqueta. Esta, profusamente decorada com alamares e brandbourgs, era confeccionada em saragoça, à semelhança dos caçadores de infantaria. A nova jaqueta vinha aproximar os seis regimentos de caçadores a cavalo de um estilo declaradamente gaulês, ao estilo dos chasseurs à cheval ou dos hussards do exército de Napoleão III, acentuando um certo carácter de elite da cavalaria ligeira, juntamente com os dois regimentos de lanceiros.
O capote passou a generalizar-se como vestuário de Inverno de todos os postos hierárquicos do Exército, substituindo a antiga sobrecasaca e o efémero “sobre-tudo” de 1852.
Prenunciando os fardamentos exclusivos para as faxinas e trabalhos de caserna (não excluindo exercícios de manobra), surgiu a jaqueta de brim branco que, no entanto, teve uma existência atribulada, devido às críticas que a caracterizavam como mal adaptada e incómoda para aquelas funções, acabando por ser temporariamente suprimida para voltar a ser mencionada no plano de 1885, secundando a jaqueta de pequeno uniforme em panos azul ferrete ou cor de pinhão.
Manteve-se o bivaque do modelo de 1852 e o boné de pala de 1848 para o corpo de oficiais, à excepção do modelo à austríaca destinado aos oficiais superiores.
O calçado, peça essencial do uniforme militar, seria igualmente reformulado, deixando de se usar os modelos de 1834 (sapato abotinado) para se introduzir um sapato convencional com atacadores, secundado por polainas também de atacadores mas que se usavam sob o cano das calças. Esta foi uma medida deveras criticada na Revista Militar, pois (apontando para o exemplo francês que sobrepunha a polaina à calça, à excepção do uniforme de passeio e nos serviços internos), a polaina não cumpria, assim, a sua função protectora, tanto da perna como da calça. De facto, torna-se discutível o uso da polaina, tal como decretado no plano de 1856, devido à indefinição das comissões legislativas quanto ao uso deste artigo.
Quando foi publicado o plano de 1856, os equipamentos e acessórios das tropas, especialmente apeadas, haviam sido renovados em 1855, com a aquisição à Bélgica e à Inglaterra de novas mochilas, e com a introdução de novos cinturões que serviam de suporte simultâneo à patrona, bolsa de fulminantes e conjunto da baioneta.
Neste plano de uniformes, impôs-se um prazo de seis meses, a partir de 1 de Março de 1856, para que fosse rigorosamente cumprido o plano de fardamentos decretados nas Ordens do Exército nº 11 e nº 17. Isto significava que os legisladores e comandos do Exército queriam evitar os habituais atrasos na implementação dos novos uniformes, evitando situações como as criadas a partir do plano de 1848, onde se arrastaram as modificações, as alterações e as ampliações, verificadas em 1850, 1851 e 1852.
Apesar do incipiente experimentalismo levado a cabo para a elaboração do plano de 1856, com a consequente tentativa de racionalização dos fardamentos e dotações individuais das tropas, o exemplo da jaqueta, e mais tarde de quase todo o contexto uniformológico de 1856, vai demonstrar que as nomeações de responsáveis para a elaboração de planos de uniformes continuavam a deixar de lado militares com a devida noção do equilíbrio entre a aparência, a ergonomia, a higiene e a resistência, que começavam a ser características vulgares em qualquer exército europeu da segunda metade do século XIX. Tal não significava que no Exército Português da época não existissem, sobretudo, oficiais com a percepção do conceito acima referido. Deles partiam as críticas, que graças aos conhecimentos e à cultura obtidos a partir do que de melhor se fazia na Europa, e mesmo pelo uso do simples bom-senso, eram extremamente válidas, sobretudo quando publicadas. O púlpito preferencial para veicular essas críticas, a Revista Militar, deixou-nos testemunhos comprovativos de que, apesar das dificuldades e das indecisões eternas que caracterizavam o funcionamento do exército português do século XIX, existiam militares lúcidos e cultos, curiosamente das patentes inferiores a major, indicando uma nova geração de oficiais e posteriormente sargentos, que irão protagonizar os papéis críticos da viragem do século XIX para os inícios do século XX.
Ainda em 1858, um frequente articulista da Revista Militar, Cunha Vianna, do qual não sabemos a patente nem a unidade, estabeleceu um bem estruturado raciocínio sobre a questão da concepção dos uniformes militares, no caso, portugueses, e que se insere na linha de pensamento deste trabalho.
Assim, Cunha Vianna afirmava que, em relação aos planos ou às deliberações sobre uniformes do Exército Português, estes eram subordinados a um figurino, que era sobretudo copiado de modelos estrangeiros, como por exemplo as barretinas: a de 1834, influenciada pelo desenho prussiano e inglês pós-1815, a de 1848 pelo figurino francês, ou então os bonés de caserna, do género “tachinho” (Pires, 1935, folha nº 137) cuja influência é nitidamente inglesa, para em 1852 se adoptar um boné tipo bivaque, baseado no barrete à la dragonne do exército francês e em modelos similares do exército espanhol. Dez anos mais tarde, o Exército Português adopta a cópia quase perfeita do képi-barretina francês, modelo de 1860, sobrepondo-se os ditames da moda militar europeia, cujas realidades diferiam de país para país, às necessidades e comodidades dos militares que o deveriam usar. Ficava posta de lado a articulação de um sistema útil em campanha com os caracteres económicos de um exército, que não queria sacrificar o aparato, mais apropriado à paz do que aos novos tipos de guerra da segunda metade do século XIX.
O procurado equilíbrio de factores que o autor do artigo enunciava, e que não via realizado no Exército Português, resumia-o a três pontos ou condições.
A primeira condição faz adaptar o plano de uniformes à primazia dos rigores do serviço de campanha, o mais desgastante para as tropas, independentemente do clima ou das condições do terreno. Era necessária flexibilidade para que os fardamentos se adaptassem a tais condições, implicando a conjugação da protecção com a leveza.
A segunda condição articula-se com a primeira, porque o factor económico relacionar-se-ia com a exigência de um sistema (“trem” no original) de armas o mais ligeiro possível, como condição essencial para a mobilidade, tendo em conta o país ou zona onde se realiza a campanha. Cunha Vianna vaticinava, sem o saber, a série de campanhas coloniais a que o Exército Português teve de acorrer por diversas circunstâncias e aonde se pôs realmente à prova o cruzamento entre o pragmatismo e as exigências do terreno, como por exemplo nas campanhas na Índia em 1871, em Angola em 1873, e a pacificação de Moçambique a partir de 1894.
A terceira condição, que marca o equilíbrio, baseava-se no necessário aparato marcial do Exército, como imagem do Estado e do Reino. Independentemente do gosto ou do figurino, era uma posição delicada, pois o excesso de aparato implicava a desarticulação com as duas primeiras situações, deixando o Exército de possuir a necessária operacionalidade. Essa operacionalidade, pilar fundamental da soberania nacional, deixaria de o ser para se tornar uma extensa guarda palaciana, versão alongada de um exército de conto de fadas, decorativo e inútil.
Qualquer tentativa de racionalizar os sistemas de fardamento do Exército Português, não devia pôr de parte a análise dos figurinos estrangeiros, mas como Cunha Vianna teorizava, era uma necessidade, sobretudo com realidades próximas da nossa. Contudo, escrevia o autor: “mas esse trabalho deve tomar o carácter de estudo, para delle se tirar as convenientes applicações, e não sacrificar a reflexão à authoridade, muitas vezes experimental, de um qualquer systema, só porque é seguido por aqueles a quem cedemos o glorioso título de nação guerreira (…)” (Revista Militar, 1858, p. 384).
Os uniformes introduzidos pelo plano de 1856, apesar das muitas modificações que comportaram, começaram a mostrar deficiências, tanto no planeamento como na aplicação e qualidade dos materiais.
Desde 1858 que não eram decretadas quaisquer determinações relativas aos uniformes de 1856, parecendo que o processo de implementação decorria sem percalços. Mas em 1860 essa questão volta a ser abordada na Revista Militar, de maneira mais específica e pragmática do que Cunha Vianna o havia feito dois anos antes. A abordagem é incisiva e generalizada, mas não se desliga dos princípios básicos enunciados por Cunha Vianna. O autor, o capitão Luiz Augusto Pimentel, do Regimento de Infantaria nº 17, começou por afirmar, sem qualquer rodeio, que os uniformes de infantaria (os de 1856) não eram elegantes, nem tão pouco cómodos. Com a supressão das antigas fardas de abas, teria sido suposto aligeirar a pesada massa de fardamento e equipamento que o infante português devia transportar, tornando-o vulnerável à fadiga e ao desgaste provocado pelas marchas forçadas de longo curso e mesmo, segundo o autor, para marchas de rotina curtas.
A má gestão das dotações individuais de fardamento, assim como a falta de disciplina de uso, continuava em 1860 a provocar o excesso de carga que o soldado deveria transportar em campanha, o que infere que não deixaria quaisquer dos seus pertences no quartel ou unidade. Aquele excesso de material acabava também por onerar os pequenos recursos financeiros do soldado.
É pertinente referir o que o capitão Luiz A. Pimentel sugeria como alternativa ao estado geral dos fardamentos das tropas. Ele propunha a abolição do capote, sendo a função acumulada pelo casaco que, redesenhado, seria largo, “airoso”, com forros, chumaços e a gola aberta. Para proteger a cabeça e os ombros da chuva, existiria um capuz amplo, adaptável ao casaco por meio de botões, sendo suficientemente largo para cobrir a cabeça e a barretina, secundado por um cabeção para os ombros. O casaco, usado sobre a camisa durante o Verão, era reforçado por um colete forrado durante o Inverno.
Em grande uniforme, o casaco (sem o capuz) ornar-se-ia com dragonas de franja comprida, à francesa, com os distintivos das especialidades e da Arma.
Antecipando-se em pensamento ao que viria a ser determinado em 1868, o articulista advogava um novo modelo de barretina mais baixa, o que sem dúvida apontava o modelo francês, não o képi, mas uma versão rígida deste, com penacho de crina pendente.
Ainda dentro da influência francesa, o capitão Pimentel pretendia que a polaina apertasse sobre a calça, pelo menos nas marchas. Só nas faxinas e serviço de quartel o soldado usaria a jaqueta em brim cru, o mesmo material das calças de pequeno uniforme.
Com tudo isto pretendia-se que o soldado fosse unicamente dotado para determinado espaço de tempo (dois anos e meio) com um casaco, uma calça de pano, um colete e uma jaqueta de brim, o suficiente para ser acondicionado na mochila e acessórios, não referindo o autor as calças de brim para complementar a jaqueta.
Não fundamentando as suas ideias em factores de natureza estética, o autor defende as suas sugestões argumentando com a questão da operacionalidade e prontidão do soldado para o combate: “Em tempo de guerra que nos tem mostrado a experiencia? Que nem nas marchas, nem nos bivaques na proximidade do inimigo, nem nos postos avançados, se permitte ao soldado desenrolar o capote, porque a muxilla fica por tal forma desordenada, pelo desconcerto da correia de atravessar, da marmita, malote e franqueletes, etc. que se for necessario pegar em armas subitamente, a tropa ver-se-ia em grande confusão. E poderia perder todo o equipamento, ou despender um tempo precioso, cujo desperdicio lhe poderia ser muito funesto.” (Revista Militar, Lisboa, 1860, p. 592).
Ainda no texto que analisámos, é referido um costume relacionado com a higiene do soldado e também com a sua capacidade económica. Pimentel critica o costume (em 1860) de ser permitido ao soldado mandar a roupa a lavar fora, apartando-se dessa tarefa, mesmo que tal lhe dizimasse o soldo, especialmente se acumulasse grandes quantidades de fardamento para a lavagem (idem, p. 592 - 593). Na verdade, a obrigação do soldado de cuidar e lavar a sua própria roupa seria benéfica em termos de auto disciplina e da preservação de hábitos higiénicos, com óbvio reflexo na aparência e imagem do colectivo.
A questão sobre a qualidade e ergonomia dos fardamentos deixava transparecer várias realidades sobre a imposição de legislações sobre uniformes no Exército Português na época da Regeneração. A verdade das casernas sobrepunha-se ao texto oficial dos decretos, pela mão de oficiais maioritariamente de patentes subalternas, que acompanhavam de perto a vida e o quotidiano das suas tropas.
Ficaram testemunhos que atestam a lucidez e cultura de muitos oficiais, no meio de estruturas instáveis e das dificuldades que caracterizavam as forças armadas naquela época, sintoma da existência de uma nova geração de oficiais que irão protagonizar as viragens políticas no início do século XX.
Pese o experimentalismo inédito que precedeu o plano de uniformes de 1856 e a sua tentativa de racionalização dos sistemas uniformológicos e a actualização dos figurinos, os anos seguintes vão demonstrar que as comissões formadas para a elaboração de planos e decretos sobre uniformes dificilmente conseguiam conciliar noções de equilíbrio entre a aparência e a ergonomia, a higiene e a resistência dos materiais, características vulgares em outros exércitos da mesma época. As críticas e as opiniões condenavam e demonstravam a falta de estudo e reflexão sobre a matéria, sobrepondo-se a autoridade das patentes e a cega adopção dos sistemas estrangeiros, pela mera razão de se encontrarem na moda e por advirem de potências militares com domínio geoestratégico, como o foram a França ou a Prússia.
Na verdade, o soldado português continuou a ser dotado com fardamentos pesados, incómodos e de má qualidade, agravando uma já difícil existência, substanciada em quartéis com estruturas deficientes e situados alguns em zonas inóspitas de fraca comunicabilidade. Aliadas a estas circunstâncias, continuavam-se a verificar graves lacunas disciplinares quanto ao uso do uniforme e dos hábitos individuais no campo sanitário.«

Continua