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"Após a derrota das tropas francesas em Vimieiro, a 9 de Agosto de 1808, Junot vê-se obrigado a abandonar Portugal e o almirante Seniavin, que já tinha estabelecido contactos com o comando da armada inglesa que bloqueava Lisboa em meados de Julho, tentou agora fazer tudo para que a sua armada não fosse apreendida pelas autoridades de Londres, pois a Rússia e a Inglaterra continuavam formalmente em estado de guerra. Argumentando a sua posição numa carta dirigida ao almirante inglês Cotton, Seniavin escreve: “O meu comportamento durante os dez meses de permanência em Lisboa, as minhas recusas constantes de participar mesmo que da forma mais mínima nas medidas hostis que me eram propostas [contra os ingleses]... todos esses motivos convencem-me firmemente que Vossa Excelência terá em atenção as circunstâncias acima assinaladas e que a situação neutra legal seja observada em relação à minha esquadra, enquanto ele estiver no rio Tejo”. A armada russa acabou por ser conduzida para o porto inglês de Portsmouth e, em 1809, os oficiais e marinheiros russos regressaram ao seu país, deixando os navios em Inglaterra, tal como exigiram as autoridades de Londres. E não obstante o Governo de Londres ter, em 1812, devolvido alguns dos navios e pago por aqueles que ficaram em Inglaterra, o czar russo acusou o almirante de ter “entregue” a esquadra ao “inimigo”. Caído em desgraça, o almirante Seniavin, em 1820, vê-se obrigado a dar explicações às autoridades sobre os boatos de que ele pertenceria a uma “sociedade secreta”. Em Novembro desse mesmo ano, Dmitri Seniavin vai a casa do ministro do Interior da Rússia, Victor Kotchubei, para esclarecer a situação. O ministro respondeu que “não esconde do almirante” que ouviu falar dessa sociedade, mas que não acusava Seniavin, pois estava convencido que “não podia imaginar que semelhante iniciativa tonta, vil e hedionda pudesse caber na cabeça de um nobre russo”. Não foram até hoje encontrados documentos que provem que Dmitri Seniavin tenha sido membro de alguma sociedade secreta ou tenha tido contacto com os dezembristas, mas há vários testemunhos que mostram que alguns dos revoltosos pensaram no seu nome para dirigir a Rússia depois do êxito da revolta. O nome do almirante foi várias vezes citado durante os interrogatórios a que os dezembristas foram sujeitos na prisão. Piotr Pestel, um dos dirigentes da revolta de Dezembro de 1825, declarou à Comissão de Investigação: “Bestujev-Riumin, depois de se encontrar em Kiev com o príncipe Trubetskoi e o coronel Briguin, veio depois ter comigo a Lintsi e disse-me que ele soube, através de Trubetskoi e Briguin, da intenção da Sociedade do Norte nomear os almirantes Mordvinov e Seniavin membros do governo provisório”. “No que respeita à nomeação pela Sociedade do Norte dos almirantes Mordvinov e Seniavin para o governo provisório, posso afirmar que o príncipe S. Trubetskoi era da mesma opinião, mas não sei se todos os membros da Sociedade do Norte a partilhavam” – declarou Serguei Muraviov-Apostol no interrogatório". (Fim)
"Após a derrota das tropas francesas em Vimieiro, a 9 de Agosto de 1808, Junot vê-se obrigado a abandonar Portugal e o almirante Seniavin, que já tinha estabelecido contactos com o comando da armada inglesa que bloqueava Lisboa em meados de Julho, tentou agora fazer tudo para que a sua armada não fosse apreendida pelas autoridades de Londres, pois a Rússia e a Inglaterra continuavam formalmente em estado de guerra. Argumentando a sua posição numa carta dirigida ao almirante inglês Cotton, Seniavin escreve: “O meu comportamento durante os dez meses de permanência em Lisboa, as minhas recusas constantes de participar mesmo que da forma mais mínima nas medidas hostis que me eram propostas [contra os ingleses]... todos esses motivos convencem-me firmemente que Vossa Excelência terá em atenção as circunstâncias acima assinaladas e que a situação neutra legal seja observada em relação à minha esquadra, enquanto ele estiver no rio Tejo”. A armada russa acabou por ser conduzida para o porto inglês de Portsmouth e, em 1809, os oficiais e marinheiros russos regressaram ao seu país, deixando os navios em Inglaterra, tal como exigiram as autoridades de Londres. E não obstante o Governo de Londres ter, em 1812, devolvido alguns dos navios e pago por aqueles que ficaram em Inglaterra, o czar russo acusou o almirante de ter “entregue” a esquadra ao “inimigo”. Caído em desgraça, o almirante Seniavin, em 1820, vê-se obrigado a dar explicações às autoridades sobre os boatos de que ele pertenceria a uma “sociedade secreta”. Em Novembro desse mesmo ano, Dmitri Seniavin vai a casa do ministro do Interior da Rússia, Victor Kotchubei, para esclarecer a situação. O ministro respondeu que “não esconde do almirante” que ouviu falar dessa sociedade, mas que não acusava Seniavin, pois estava convencido que “não podia imaginar que semelhante iniciativa tonta, vil e hedionda pudesse caber na cabeça de um nobre russo”. Não foram até hoje encontrados documentos que provem que Dmitri Seniavin tenha sido membro de alguma sociedade secreta ou tenha tido contacto com os dezembristas, mas há vários testemunhos que mostram que alguns dos revoltosos pensaram no seu nome para dirigir a Rússia depois do êxito da revolta. O nome do almirante foi várias vezes citado durante os interrogatórios a que os dezembristas foram sujeitos na prisão. Piotr Pestel, um dos dirigentes da revolta de Dezembro de 1825, declarou à Comissão de Investigação: “Bestujev-Riumin, depois de se encontrar em Kiev com o príncipe Trubetskoi e o coronel Briguin, veio depois ter comigo a Lintsi e disse-me que ele soube, através de Trubetskoi e Briguin, da intenção da Sociedade do Norte nomear os almirantes Mordvinov e Seniavin membros do governo provisório”. “No que respeita à nomeação pela Sociedade do Norte dos almirantes Mordvinov e Seniavin para o governo provisório, posso afirmar que o príncipe S. Trubetskoi era da mesma opinião, mas não sei se todos os membros da Sociedade do Norte a partilhavam” – declarou Serguei Muraviov-Apostol no interrogatório". (Fim)
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