Biografia militar de William Chartres
William Chartres assentou praça em 1803, num regimento escocês (quando Berwick-upon-Tweed pertencia à Escócia), entrando ao serviço do Exército Britânico no Regimento de Infantaria "26", chamado "the Cameronians" - Scottish Riffles, no posto de Alferes. Foi promovido a Tenente a 21 de Março de 1805.
O "26th Foot" esteve somente durante um curto período de tempo na Guerra Peninsular e deixou a Península Ibérica pouco depois da batalha da La Coruña, no início de 1809. Deve ter sido por essa data que William Chartres foi destacado no Exército Português (na 2ª Companhia de Granadeiros do Regimento de Infantaria n.º 11) participando na Guerra Peninsular de Maio de 1809 a 1812. William Chartres esteve nas batalhas de Roliça (17 de Agosto de 1808), La Coruña (16 de Janeiro de 1809), Buçaco (27 de Setembro de 1810), Albuera (16 de Maio de 1811) e Badajoz (6 de Abril de 1812). Aquele destacamento permitia-lhe ter o posto de oficial no exército britânico ao mesmo tempo que era graduado num posto acima no exército português, recebendo dos dois lados!
William Chartres, ou Charters, manteve-se ao serviço activo no Exército Britânico até Dezembro de 1816, data a partir da qual "passou a poder continuar somente ao serviço do Exército Português".
Na British Army List de 1817, William Chartres aparece na secção dos oficiais ao serviço dos exércitos portugueses e espanhóis, tendo passado a meio-soldo desde 25 de Dezembro de 1816. William Chartres continua a surgir na mesma situação em listas subsequentes. Somente na edição de 1826 das listas aparece na secção intitulada "Casualties since the last publication" na subsecção "Retirements and Resignations".
Na edição de 1835 é indicado como Major, com meio-soldo. De facto, William Chartres era Capitão quando iniciou a sua actividade no Exército Português, embora a 7 de Setembro de 1817 tenha sido promovido a Major no Exército Britânico. No Exército Português, foi Capitão agregado ao Regimento de Infantaria n.º 11, a partir de 16 de Agosto de 1809, passando a efectivo em 16 de Maio de 1810. Foi depois Capitão de Granadeiros da 2ª Companhia do mesmo Regimento em 11 de Fevereiro de 1811, Sargento-mor do Regimento de Infantaria n.º 22 (em Vila Real) e Tenente-coronel em 1819 (ao serviço no Regimento de Infantaria n.º 15, em Braga). Reformou-se, após 22 anos de serviço, com o posto de Tenente-coronel do Exército português por decreto de 26 de Janeiro de 1826, com um terço do soldo. Foi agraciado Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada a 9 de Outubro de 1834.
O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 22 em Almeida (Coronel Manuel António Cardoso), na avaliação referente ao primeiro semestre de 1813, alude a William Chartres como "conhecedor dos Regulamentos e Ordens do Dia e capaz de manobrar bem o Regimento no campo, cumprindo com zelo os seus deveres militares, tendo uma boa conduta militar".
A sua saúde não estava muito bem nessa época. Para gozar das águas sulfurosas de Moledo, William Chartres obteve 20 dias de licença, que a Junta de Saúde de Lamego lhe concedeu em 13 de Julho de 1813.
Entretanto, a 1 de Julho de 1815, António de Lacerda Silveira, posterior Coronel Comandante do Regimento de Infantaria n.º 22, em Almeida, declarou que William Chartres tinha "boa disposição física e má saúde nos últimos tempos (teve sezões durante 33 dias e venéreas durante 62 dias) porém actualmente se restabeleceu e está capaz para todo o serviço".
Contudo, William Chartres era também visado negativamente nesse relatório de António de Lacerda Silveira, no item "conduta civil": encontra-se "mais moderado do que tenho dito em informações antecedentes por se ter abstido das bebidas espirituosas que davam motivo a que não tratasse bem os habitantes do país e mesmo alguns oficiais". Em outros pontos dos relatórios deste comandante, alude-se novamente à conduta militar: "é boa se se abstém das referidas bebidas, não desconhece as manobras e tem desejos pelo serviço". No item "aplicação a estudos", refere-se: "tem lido livros, não sei se militares, porém creio que a sua maior aplicação tem sido na história e romances". Mais adiante diz-se: "É aplicado ao serviço e tem bons desejos pela perfeição do Regimento, a que seria útil se conservasse sempre o mesmo senso". No seu juízo final, o comandante afirma que "este oficial se se soubesse sempre moderar, seria muito bom, porém facilmente perde a cabeça, ainda que beba pouco vinho, e não pode inteiramente abster-se dele e nesse estado é incómodo aos camaradas e habitantes do país, pelo mau modo com que os trata; espero contudo que continuando a moderar-se como lhe convém e ultimamente tem feito não deixe de ser útil no serviço".
Nos relatórios do segundo semestre de 1815, o Coronel António Lacerda Pinto da Silveira (Comandante do Regimento de Infantaria n.º 22) volta a referir o facto de William Chartres "gostar de bebidas espirituosas e de vinho" e, como consequência, "não tratar bem os habitantes do país e mesmo alguns oficiais". Apesar disso, tece-lhe elogios: "boa conduta militar, aplicado ao serviço, tem bons desejos pela perfeição do Regimento [...], não desconhece os Regulamentos e as Ordens do Dia e é capaz de manobrar com o Regimento no campo".
Como seria de supor, esta conduta militar de William Chartres, que surge somente após o seu casamento com uma senhora de uma família rica de Leiria, veio a criar-lhe problemas. Na informação semestral referente ao início de 1816, é indicado que William Chartres tinha tido 121 dias de prisão no ano anterior. Efectivamente, em finais de 1815 foi presente ao Conselho de Guerra. Foi também julgado a 23 de Fevereiro de 1820, tendo-lhe sido imposta, a 25 de Agosto desse ano, uma pena de 100 dias sem vencimento. No relatório do Coronel Comandante do Regimento diz-se que tudo sucedeu "por falta de respeito aos seus superiores, tendo atacado o Tenente-coronel inteiramente desarmado; tendo ele, Major, espada e pistola; desobedecendo às vozes de prisão que o Coronel comandante lhe deu".
William Chartres assentou praça em 1803, num regimento escocês (quando Berwick-upon-Tweed pertencia à Escócia), entrando ao serviço do Exército Britânico no Regimento de Infantaria "26", chamado "the Cameronians" - Scottish Riffles, no posto de Alferes. Foi promovido a Tenente a 21 de Março de 1805.
O "26th Foot" esteve somente durante um curto período de tempo na Guerra Peninsular e deixou a Península Ibérica pouco depois da batalha da La Coruña, no início de 1809. Deve ter sido por essa data que William Chartres foi destacado no Exército Português (na 2ª Companhia de Granadeiros do Regimento de Infantaria n.º 11) participando na Guerra Peninsular de Maio de 1809 a 1812. William Chartres esteve nas batalhas de Roliça (17 de Agosto de 1808), La Coruña (16 de Janeiro de 1809), Buçaco (27 de Setembro de 1810), Albuera (16 de Maio de 1811) e Badajoz (6 de Abril de 1812). Aquele destacamento permitia-lhe ter o posto de oficial no exército britânico ao mesmo tempo que era graduado num posto acima no exército português, recebendo dos dois lados!
William Chartres, ou Charters, manteve-se ao serviço activo no Exército Britânico até Dezembro de 1816, data a partir da qual "passou a poder continuar somente ao serviço do Exército Português".
Na British Army List de 1817, William Chartres aparece na secção dos oficiais ao serviço dos exércitos portugueses e espanhóis, tendo passado a meio-soldo desde 25 de Dezembro de 1816. William Chartres continua a surgir na mesma situação em listas subsequentes. Somente na edição de 1826 das listas aparece na secção intitulada "Casualties since the last publication" na subsecção "Retirements and Resignations".
Na edição de 1835 é indicado como Major, com meio-soldo. De facto, William Chartres era Capitão quando iniciou a sua actividade no Exército Português, embora a 7 de Setembro de 1817 tenha sido promovido a Major no Exército Britânico. No Exército Português, foi Capitão agregado ao Regimento de Infantaria n.º 11, a partir de 16 de Agosto de 1809, passando a efectivo em 16 de Maio de 1810. Foi depois Capitão de Granadeiros da 2ª Companhia do mesmo Regimento em 11 de Fevereiro de 1811, Sargento-mor do Regimento de Infantaria n.º 22 (em Vila Real) e Tenente-coronel em 1819 (ao serviço no Regimento de Infantaria n.º 15, em Braga). Reformou-se, após 22 anos de serviço, com o posto de Tenente-coronel do Exército português por decreto de 26 de Janeiro de 1826, com um terço do soldo. Foi agraciado Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada a 9 de Outubro de 1834.
O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 22 em Almeida (Coronel Manuel António Cardoso), na avaliação referente ao primeiro semestre de 1813, alude a William Chartres como "conhecedor dos Regulamentos e Ordens do Dia e capaz de manobrar bem o Regimento no campo, cumprindo com zelo os seus deveres militares, tendo uma boa conduta militar".
A sua saúde não estava muito bem nessa época. Para gozar das águas sulfurosas de Moledo, William Chartres obteve 20 dias de licença, que a Junta de Saúde de Lamego lhe concedeu em 13 de Julho de 1813.
Entretanto, a 1 de Julho de 1815, António de Lacerda Silveira, posterior Coronel Comandante do Regimento de Infantaria n.º 22, em Almeida, declarou que William Chartres tinha "boa disposição física e má saúde nos últimos tempos (teve sezões durante 33 dias e venéreas durante 62 dias) porém actualmente se restabeleceu e está capaz para todo o serviço".
Contudo, William Chartres era também visado negativamente nesse relatório de António de Lacerda Silveira, no item "conduta civil": encontra-se "mais moderado do que tenho dito em informações antecedentes por se ter abstido das bebidas espirituosas que davam motivo a que não tratasse bem os habitantes do país e mesmo alguns oficiais". Em outros pontos dos relatórios deste comandante, alude-se novamente à conduta militar: "é boa se se abstém das referidas bebidas, não desconhece as manobras e tem desejos pelo serviço". No item "aplicação a estudos", refere-se: "tem lido livros, não sei se militares, porém creio que a sua maior aplicação tem sido na história e romances". Mais adiante diz-se: "É aplicado ao serviço e tem bons desejos pela perfeição do Regimento, a que seria útil se conservasse sempre o mesmo senso". No seu juízo final, o comandante afirma que "este oficial se se soubesse sempre moderar, seria muito bom, porém facilmente perde a cabeça, ainda que beba pouco vinho, e não pode inteiramente abster-se dele e nesse estado é incómodo aos camaradas e habitantes do país, pelo mau modo com que os trata; espero contudo que continuando a moderar-se como lhe convém e ultimamente tem feito não deixe de ser útil no serviço".
Nos relatórios do segundo semestre de 1815, o Coronel António Lacerda Pinto da Silveira (Comandante do Regimento de Infantaria n.º 22) volta a referir o facto de William Chartres "gostar de bebidas espirituosas e de vinho" e, como consequência, "não tratar bem os habitantes do país e mesmo alguns oficiais". Apesar disso, tece-lhe elogios: "boa conduta militar, aplicado ao serviço, tem bons desejos pela perfeição do Regimento [...], não desconhece os Regulamentos e as Ordens do Dia e é capaz de manobrar com o Regimento no campo".
Como seria de supor, esta conduta militar de William Chartres, que surge somente após o seu casamento com uma senhora de uma família rica de Leiria, veio a criar-lhe problemas. Na informação semestral referente ao início de 1816, é indicado que William Chartres tinha tido 121 dias de prisão no ano anterior. Efectivamente, em finais de 1815 foi presente ao Conselho de Guerra. Foi também julgado a 23 de Fevereiro de 1820, tendo-lhe sido imposta, a 25 de Agosto desse ano, uma pena de 100 dias sem vencimento. No relatório do Coronel Comandante do Regimento diz-se que tudo sucedeu "por falta de respeito aos seus superiores, tendo atacado o Tenente-coronel inteiramente desarmado; tendo ele, Major, espada e pistola; desobedecendo às vozes de prisão que o Coronel comandante lhe deu".
Continua.
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