Conclusão
O resultado conjugado das devastações e sacrifícios das Invasões Francesas na população portuguesa favoreceu decisivamente uma mudança em termos sociais, políticos e, sobretudo, militares.
Em primeiro lugar, mudaram completamente as Forças Armadas e a sua ligação à sociedade. Lembremo-nos que a Marinha seguiu para o Brasil com a Corte e coube quase exclusivamente ao Exército ser o verdadeiro motor da mudança liberal em Portugal. Não por acaso, a Armada acabaria por apoiar essencialmente a monarquia absoluta, no conturbado período das guerras civis e convulsões internas, entre 1820 e 1834 a que se pode chamar o período da “zanga real”. De facto, a Inglaterra pagava sem hesitar ao Exército, do qual necessitava, introduzindo-lhe mudanças, mas pura e simplesmente não necessitava dos navios nacionais, pelo que não estava interessada em custear a sua manutenção.
O Exército que existia em 1807 também desapareceu de forma radical, muito em particular o seu corpo de oficiais. Uma parte foi com a Corte para o Brasil e nessa parte estavam as altas patentes, isto é, a maior fatia da nobreza do Reino. Uma outra parte foi enviada por Junot na famosa Legião Portuguesa, que partiu para França em 1808 e da qual somente alguns parcos sobreviventes apareceram em Portugal no ano de 1815. Um novo exército, maior e mais bem treinado, é criado pelos ingleses a partir de meados de 1808, baseado essencialmente nos elementos que se destacaram nos levantamentos contra os franceses, a partir dos quais são nomeadas centenas de oficiais pelas juntas de âmbito regional.
Evidentemente, o novo corpo de oficiais - proveniente da pequena nobreza, dos sectores educados urbanos e dos elementos mais competentes das milícias e ordenanças - não só tinha uma origem social diferente daquele que existira antes, como foi também montado de acordo com as ideias políticas inglesas correspondentes a uma monarquia constitucional liberal. A introdução de oficiais ingleses no exército português também contribuiu para a mudança.
Estão aqui as raízes do Liberalismo em Portugal. O corpo de oficiais passa a ter novas ideias políticas e a demonstrar um bom domínio das técnicas e conhecimentos militares, tornando-se incómodo para o Antigo Regime. Começam a ser comuns os conflitos entre e os novos oficiais e aqueles oficiais do Antigo Regime que, sendo nobres, ainda se mantiveram no Exército. O Tenente-coronel Guilherme Charters é um exemplo claro dessa clivagem ideológica. Outro exemplo é o do Sargento-mor Guilherme Novo (ou antes William Young) que montou um teatro independente em Leiria, promoveu discussões maçónicas... e foi depois preso e extraditado para Inglaterra.
A segunda grande mudança foi a do modelo económico. A estrutura económica anterior é muito abalada pela abertura dos portos ao comércio inglês, quebrando o quase monopólio da ligação ao Brasil, assegurado por empresas portuguesas ligadas ao Antigo Regime. A agricultura portuguesa procurou modernizar-se copiando ideias vindas de fora, como tentou o Tenente-coronel William Charters.
É quebrado o exclusivo da exportação dos produtos vindos do Brasil a partir de Portugal, por exemplo. Isto terá um impacto económico evidente. Nesta altura, a agricultura em Portugal continental configura-se como alternativa para a obtenção de bons rendimentos, desde que explorada de forma inteligente. Era preciso recuperar o país dando-lhe de comer, o que justificava ganhos capazes de levar ao ressurgimento de uma certa nobreza rural, a que os filhos do Tenente Coronel Guilherme Charters se associaram.
O resultado conjugado das devastações e sacrifícios das Invasões Francesas na população portuguesa favoreceu decisivamente uma mudança em termos sociais, políticos e, sobretudo, militares.
Em primeiro lugar, mudaram completamente as Forças Armadas e a sua ligação à sociedade. Lembremo-nos que a Marinha seguiu para o Brasil com a Corte e coube quase exclusivamente ao Exército ser o verdadeiro motor da mudança liberal em Portugal. Não por acaso, a Armada acabaria por apoiar essencialmente a monarquia absoluta, no conturbado período das guerras civis e convulsões internas, entre 1820 e 1834 a que se pode chamar o período da “zanga real”. De facto, a Inglaterra pagava sem hesitar ao Exército, do qual necessitava, introduzindo-lhe mudanças, mas pura e simplesmente não necessitava dos navios nacionais, pelo que não estava interessada em custear a sua manutenção.
O Exército que existia em 1807 também desapareceu de forma radical, muito em particular o seu corpo de oficiais. Uma parte foi com a Corte para o Brasil e nessa parte estavam as altas patentes, isto é, a maior fatia da nobreza do Reino. Uma outra parte foi enviada por Junot na famosa Legião Portuguesa, que partiu para França em 1808 e da qual somente alguns parcos sobreviventes apareceram em Portugal no ano de 1815. Um novo exército, maior e mais bem treinado, é criado pelos ingleses a partir de meados de 1808, baseado essencialmente nos elementos que se destacaram nos levantamentos contra os franceses, a partir dos quais são nomeadas centenas de oficiais pelas juntas de âmbito regional.
Evidentemente, o novo corpo de oficiais - proveniente da pequena nobreza, dos sectores educados urbanos e dos elementos mais competentes das milícias e ordenanças - não só tinha uma origem social diferente daquele que existira antes, como foi também montado de acordo com as ideias políticas inglesas correspondentes a uma monarquia constitucional liberal. A introdução de oficiais ingleses no exército português também contribuiu para a mudança.
Estão aqui as raízes do Liberalismo em Portugal. O corpo de oficiais passa a ter novas ideias políticas e a demonstrar um bom domínio das técnicas e conhecimentos militares, tornando-se incómodo para o Antigo Regime. Começam a ser comuns os conflitos entre e os novos oficiais e aqueles oficiais do Antigo Regime que, sendo nobres, ainda se mantiveram no Exército. O Tenente-coronel Guilherme Charters é um exemplo claro dessa clivagem ideológica. Outro exemplo é o do Sargento-mor Guilherme Novo (ou antes William Young) que montou um teatro independente em Leiria, promoveu discussões maçónicas... e foi depois preso e extraditado para Inglaterra.
A segunda grande mudança foi a do modelo económico. A estrutura económica anterior é muito abalada pela abertura dos portos ao comércio inglês, quebrando o quase monopólio da ligação ao Brasil, assegurado por empresas portuguesas ligadas ao Antigo Regime. A agricultura portuguesa procurou modernizar-se copiando ideias vindas de fora, como tentou o Tenente-coronel William Charters.
É quebrado o exclusivo da exportação dos produtos vindos do Brasil a partir de Portugal, por exemplo. Isto terá um impacto económico evidente. Nesta altura, a agricultura em Portugal continental configura-se como alternativa para a obtenção de bons rendimentos, desde que explorada de forma inteligente. Era preciso recuperar o país dando-lhe de comer, o que justificava ganhos capazes de levar ao ressurgimento de uma certa nobreza rural, a que os filhos do Tenente Coronel Guilherme Charters se associaram.
Ricardo Manuel Monteiro Charters d'Azevedo
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