Lendo o 1º volume das Colecção das Ordens do Dia , referente ao ano de 1809, constata-se em relação a Silveira [futuro Conde de Amarante] um aspecto que lhe é único, no que às Ordens do Dia diz respeito.
Trata-se de um oficial que se queixa constantemente dos oficiais sob o seu comando, e pretende por esta via, encontrar responsáveis para os seus actos e as suas falhas.
Não se compreende a sua atitude.
Trata-se de um oficial que se queixa constantemente dos oficiais sob o seu comando, e pretende por esta via, encontrar responsáveis para os seus actos e as suas falhas.
Não se compreende a sua atitude.
No fim da guerra seria acusado por Wellington do contrario. Em 1813, referindo-se à possibilidade de ver o seu exército desmembrado pelas intrigas de Silveira, diz a Stuart:
“My opinion of Silveira is very much altered. He possesses not one military quality; and he has been repeatedly guilty of (…) courting popularity with the common soldiers, by flattering their vices, and by impunity from their misconduct. Such a man will not do in this army!”, - Carta de Wellington a Stuart de 8 de Novembro de 1813, Wellington Papers, vol 1, p.381.
Mas vamos ao ano de 1809.
A primeira Ordem do Dia , é de 9 de Agosto de 1809.
Mas vamos ao ano de 1809.
A primeira Ordem do Dia , é de 9 de Agosto de 1809.
«O Marechal Comandante em Chefe do Exército , achando por uma informação do Marechal de Campo Silveira, que poderia ter más consequencias a entrada do Coronel Bernardo do Carmo no Regimento de Infantaria nº 24 pelo descontentamento geral, que isto ocasionaria no mesmo Regimento ; ordenou que o Tenente-coronel conservasse o Comando deste; porem, tendo achado pelas representações , que lhe foram feitas em Almeida onde está o regimento , e pela averiguações que mandou fazer, que a informação do Marechal de Campo era muito mais forte do que pediam as circunstancias , não quer demorar-se em fazer justiça ao Coronel Bernardo do Carmo, o qual tomará o lugar no Regimento segundo a patente que tem.»
Na Ordem do Dia de 26 de Dezembro, podem ler-se duas acusações de Silveira e as respectivas sentenças do Conselho de Guerra.
A primeira acusação ao Coronel de Cavalaria Francisco Guedes de Carvalho e Menezes, Coronel do Regimento de Cavalaria 9.
Este oficial foi absolvido.
A segunda ao Tenente-Coronel agregado ao Regimento de Infantaria 12, Francisco Homem de Magalhães Pissarro [ Pizarro].
Também este oficial acabaria por ser absolvido.
Não transcrevo as acusações e sentenças pela sua extensão, mas elas falam por si do modo inconstante e pouco claro e dúbia como ele [Silveira] dava as ordens aos seus subordinados.
Estranho também tratar-se do mesmo oficial que quase foi preso por hesitar juntar-se ao levantamento contra os Franceses. Acúrcio das Neves, na sua obra publicada ainda durante a Guerra Peninsular, «Historia Geral da Invasão dos Franceses em Portugal e da Restauração deste Reino» José Acúrcio das Neves, vol. 2, pp. 80-81, já fazia reparos à personalidade ambiciosa e insubordinada de Silveira. Fazia-lo nos seguintes termos:
“O tenente-coronel de cavalaria (hoje marechal de campo) Francisco da Silveira Pinto da Fonseca foi um dos oficiais militares que Sepúlveda chamou junto a si, logo desde os primeiros momentos da restauração; e Silveira, irresoluto ainda, deixou-se ficar em Vila Real, onde se achava; apenas porém ali rompeu a revolução, pôs-se à frente dela. Vila Real tomando-se a émula de Bragança, Silveira foi o competidor de Sepúlveda: fez-se independente deste general e declarou-se chefe da revolução. É assim que começou a sua carreira um general ilustre, que depois se tem assinalado por tão distintos serviços, como tem feito ao Soberano e à pátria na segunda restauração de Chaves, na defesa das províncias do Norte, na Galiza mesmo, e na Beira Alta, onde neste momento está servindo de barreira à entrada de novos reforços do inimigo, e cortando as comunicações a Massena.
Não cumpriu as determinações de Sepúlveda, e Sepúlveda chegou ao ponto de enviar o brigadeiro (hoje Tenente-general) Manuel Pinto Bacelar- para o prender. Bacelar contemporizou, pensando poder reduzir as coisas à devida ordem sem tocar os extremos: não o conseguiu”
Não cumpriu as determinações de Sepúlveda, e Sepúlveda chegou ao ponto de enviar o brigadeiro (hoje Tenente-general) Manuel Pinto Bacelar- para o prender. Bacelar contemporizou, pensando poder reduzir as coisas à devida ordem sem tocar os extremos: não o conseguiu”
2 comentários:
João, um exemplo de como a leitura ou releitura de documentos da época pode trazer novas luzes que podem alterar perspectivas estabelecidas sobre pessoas e acontecimentos... é difícil discernir muitas vezes as motivações e interesses que estão por detrás das atitudes dos protagonistas da época, o que nos deixa por vezes perplexos.
Parece-me que Silveira foi, à época, sobrevalorizado, talvez por razões politicas... afinal o governo português precisava de uma figura militar de prestigio para contrabalançar os ingleses.
Cumprimentos.
Exactamente. Penso que Silveira é uma espécie de Marechal Montgomery para os Ingleses. Fruto da propaganda e da necessidade de um Heroi.
Todos os apontamentos que leio sobre ele, não são abonatórios, exactamente o contrario do que leio sobre Lecor, Luis do Rego, ou mesmo um dos acusados por Silveira , o Cor. Pizarro, militar de grande valor.
J Centeno
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