segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.3

Capítulo 3. O período da Guerra Peninsular

Em 1806 foi decretado novo plano de uniformes, perfeitamente adaptado às modas militares da Europa e em que o obsoleto tricórnio, a véstia e a velha pantalona pelo joelho foram sustituídos pela barretina e por um fardamento mais simples e sóbrio, composto pela casaca de abas azul ferrete, agora a fechar pela cintura, e as calças, divididas em modelo de Inverno e modelo de Verão. O primeiro tipo de calça, em lã azul ferrete, apertava pelo tornozelo e complementava-se com polainas de pano grosso preto sobre a calça e o sapato. O segundo tipo era confeccionado em linho branco ou alvadio, e o seu recorte era invulgar, já que era rematada na sua parte inferior por uma pala semelhante a uma polaina que apertava entre o tacão e a sola do sapato. Os regimentos de linha eram agora diferenciados, somente, pela combinação cromática das golas, dos canhões das mangas e dos forros das casacas. Os uniformes da milícia, ou a segunda linha, eram semelhantes aos das tropas regulares e seguindo o método distintivo da primeira linha, apenas se colocando os nomes das localidades regimentais na barra inferior de latão da barretina. A terceira linha, constituída pelas ordenanças, de carácter fortemente rural, possuía fardamentos mais peculiares à base de tecidos grosseiros de cor castanha como o burel ou a saragoça, este um tecido de origens beirãs. Em 1809 a infantaria ligeira é convertida nos corpos de caçadores, assumindo por muitos anos o carácter, justificado, de tropas de élite e extremamente apreciadas pelos altos comandos britânicos durante a Guerra Peninsular. Os caçadores de infantaria caracterizavam-se pelos seus uniformes castanhos, geralmente, do já referido tecido de saragoça destinado a sargentos e praças e em tecidos mais nobres para oficiais. Indubitavelmente baseados nos regimentos de atiradores britânicos, uniformizados de verde, o 95th e o 60th Rifles Regiments, os caçadores, cuja técnica de combate se efectuava em ordem dispersa e valendo-se da perícia dos seus atiradores em alvos selectivos, ao contrário da infantaria de linha que actuava em ordem cerrada e cujo fogo se fazia maciçamente em descargas cerradas, necessitavam de uniformes que os dissimulassem na paisagem, evitando a sua detecção pelo inimigo. Este conceito foi igualmente adoptado pelos exércitos austríacos com os seus FeldJäger, fardados de cinza escuro e que foram adversários temíveis das tropas napoleónicas. Curiosamente estes últimos, apesar de possuírem caçadores a cavalo (Chasseurs à Cheval) com uma filosofia de uso de acordo com as tácticas de cavalaria ligeira, contavam com unidades de infantaria ligeira (Voltigeurs) mas desprovidos de armas raiadas, contrariamente aos portugueses e ingleses, fiéis usuários da carabina raiada de pederneira Baker, ou dos austríacos com a sua Jäger Karabine.
Ainda no contexto da Guerra Peninsular, a cavalaria e a artilharia portuguesas também se uniformizavam de azul ferrete, embora com fardamentos característicos, decretados pelo plano de uniformes de 1806, consistindo na farda curta, calção, bota e capacete de couro, tipo Tarleton, ornado com cresta de crina de cavalo para os primeiros e fardamento similar ao da infantaria para os artilheiros. As diferenciações regimentais faziam-se como na infantaria.
Apesar das profundas reorganizações levadas a cabo por Wellington e Beresford, os uniformes do Exército Português mantiveram o seu corte básico até à Guerra Civil de 1832-1834.

Continua

Sem comentários: