sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa-1

Uniformologia Militar Portuguesa
1806-1892
O Jogo das Regras e Excepções

A historiografia militar em Portugal careceu durante muitos anos da abordagem científica das características que envolvem o complexo mundo dos uniformes militares. Estes passam para além da simples análise da forma, da cor e da simbologia, entram indubitavelmente na área das ciências sociais, no momento em que se começa a abordar a relação homem/uniforme.

Capítulo 1. Contexto Geral
A uniformologia tornou-se uma ciência auxiliar da História Militar e da História em geral, dotada desde cedo com metodologias apropriadas e com extensas componentes materiais e humanas. O uniforme, no seu sentido mais lato, surge a par com o nascimento, a partir de meados do século XVII, dos regimes do despotismo esclarecido e com o estabelecimento do centralismo estatal. Mesmo os eternos mercenários, que um pouco por toda a Europa vendiam os seus talentos na espada, na alabarda e no mosquete, tiveram que abandonar a sua liberdade vestimentária, para se submeterem às regras da uniformidade, como sucedeu com a guarda suíça dos reis de França e do Papa. O colorido individualista, que caracterizava o soldado europeu desde a queda do Império Romano do Ocidente até às guerras do Renascimento, deu lugar a uma gradual uniformização, que evoluía a par com a arte e o engenho mortífero da guerra, sobretudo com o advento da pólvora e das armas de fogo. A uniformização foi inicialmente imposta a nível regimental, com particular incidência nos fins do século XVII e durante todo o século XVIII, continuando a subsistir um xadrez assaz colorido nos campos de batalha daqueles tempos, mas denotando uma uniformidade organizada e obrigatoriamente visível através dos densos lençóis do fumo da pólvora negra.
O decorrer do século XIX iria finalmente fazer com que os exércitos se uniformizassem no seu todo, à excepção de alguns corpos de élite e das guardas reais e presidenciais.
Embora se possa falar de uma moda do vestuário militar, ditada geralmente pelas grandes potências e não poucas vezes adoptada pelos exércitos de pequenos países que pela aparência nela se reviam, isso não obstava a que a eficiência em combate desses pequenos exércitos, por vezes exuberantes mas mal armados e treinados, deixasse muito a desejar nos campos de batalha, criando uma diferença prática entre a aparência e a realidade.
Em termos uniformológicos, as forças armadas portuguesas não fugiram à regra das suas congéneres europeias, embora com as condicionantes ditadas pela periferia geográfica, económica e cultural de Portugal, aliadas a uma endémica vida politíca mal gerida.
Continua

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