domingo, 9 de novembro de 2008

Uniformologia Militar Portuguesa.2

Capítulo 2. Breve Panorâmica sobre o séc. XVIII

As primeiras referências concretas a uma unidade vestimentária nas forças armadas portuguesas surgem em 1740, na obra A Milicia Pratica de Bento Coelho, já com a representação gráfica dos fardamentos. No entanto, estes apresentavam um estilo muito aproximado às modas militares francesas, com origem nas reestruturações levadas a cabo no período de Luís XIV e demonstrando a influência que a França tinha na corte portuguesa de D. João V, ele também um déspota esclarecido. Se um regime político servia de modelo, era normal seguir-se-lhe a estrutura militar, tanto na aparência como nos equipamentos e tácticas de combate, conceito que nos acompanhará ao longo deste texto e perfeitamente adaptável à realidade militar portuguesa do século XVIII até à guerra colonial de 1961-1974.
Com a crescente ameaça espanhola e no contexto da Guerra dos Sete Anos, o Exército, que havia chegado a um estado lamentável de desleixo e abandono por parte dos poderes políticos e militares, viu-se obrigado, na década de 1760, a um esforço de reorganização rápida, pressionada pelas incursões espanholas em território português. Apesar de uma primeira tentativa de regulamentação de fardamentos em 1762, que pela primeira vez apresentou uma série de gravuras coloridas, permitindo a visualização dos uniformes, vai ser em 1764, com o comando e organização do Exército entregues ao Conde de Lippe, que os uniformes vão ser devidamente regulamentados, tanto em termos teóricos como gráficos. Na verdade, os decretos de 1764 vão-se tornar no primeiro plano de uniformes do Exército Português, com um elevado índice de uniformidade, demonstrado pela adopção de uma cor base para as casacas de abas, o azul ferrete. As diferenciações regimentais surgiam nas cores dos canhões das mangas, golas, forros e, até 1800, pelas cores das véstias e pantalonas. Sem dúvida que se fosse possível, hoje, ver uma divisão de infantaria uniformizada pelo plano de 1764, alinhada num campo de batalha, ser-nos-ia fácil constatar que, apesar das referidas cores regimentais, distribuídas por várias peças de vestuário e peças de adorno, a mancha cromática dominante seria o azul ferrete regulamentar. Isto não excluía que existissem regimentos com cores individualizadas, tais como unidades de emigrados do pós - Revolução Francesa ou mercenários Suíços que chegaram a estar ao serviço de D. José e D ª Maria I, trajando-se aqueles com casacas vermelhas, mais uma vez à semelhança dos Cent Suisses da corte francesa, ou ainda certos regimentos destacados para as colónias e cujos uniformes chegaram a ser castanhos ou verdes. Com a administração de Lippe, o Exército Português tornou-se numa máquina de guerra eficiente e bem uniformizada, com a forte influência prussiana do seu mentor, capaz de dissuadir os arremedos expansionistas da coroa espanhola. Apesar do afastamento do Conde de Lippe causado pelo omnipresente despeito de muitos oficiais, provenientes de uma larga parte de uma aristocracia amorfa e medíocre, mas hábil em intrigas palacianas e ministeriais, o mote cromático estava estabelecido - o Exército Português ir-se-ia fardar de azul ferrete até 1908, altura em que adoptou o cinzento como cor de campanha. Após Lippe, as estruturas militares voltaram a um pronunciado declínio, tristemente demonstrado na Guerra das Laranjas de 1801, em que se impôs ao Exército o comando do idoso e incapaz Duque de Lafões, inábil em levar as tropas a conter as arremetidas das tropas espanholas do valido Godoy.
Continua

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